Todas as vezes que amei, amaldiçoei os meus sentidos por sentirem demais

Malditos ouvidos os meus, que imploram por escutar de ti tantas vezes as mesmas juras de amor — para certificar de que você não as esqueceu. Malditos lábios estes que enfeitam o meu rosto soturno e declamam a ti todas as poesias românticas já escritas — para te dizer que de mim elas transbordam. Malditos também meus olhos, que te procuram em todas as faces e encontram o charme do teu sorriso travesso mesmo quando estão fechados. E que dizer das minhas mãos? Ah, essas traidoras... Elas sabem teu contorno de cor e, na tua ausência, desenham-te no vazio, como se moldassem tua presença a partir da memória.

Todas as vezes que amei, amaldiçoei os meus sentidos por sentirem demais. Carrego um coração condenado à sensibilidade, que sangra por amor e pela ausência dele, e peço, leva-o daqui! É teu, e já não pulsa em outro ritmo que não a do teu nome, em que cada batida é uma prece silenciosa, rogando para que permaneças.

E às vezes isso parece ser pedir demais. 

Talvez o verdadeiro infortúnio não seja amar tanto assim, mas ser uma alma entregue aos delírios do peito, que carrega memórias como feridas abertas. E nessas passagens efêmeras e impetuosas, descubro o peso de mim mesma, como se tudo que sou fosse um espelho do que já perdi — ou do que nunca poderei ter por completo.

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