Você bateu à porta com o nó dos dedos anunciando a chegada, com serenidade girou a chave devagar e, de passo brando, sentou à mesa do café comigo. Soprou sua calidez no meu rosto ruborizado com suas palavras mansas e beijou-me o espírito sem tocar-me a carne. Conversamos com palavras e também sem elas. Desaguei meu mar, desenhei tempestades, que à luz dos teus olhos não passam de chuvisco, e escutei o silêncio. Não destes que perturbam a mente vazia com especulações e nostalgias, não, um silêncio plácido que mora no ritmo da sua respiração e na amenidade da sua presença.
Dos teus braços fiou-se o manto que acolhe-me do inverno seco e friorento, e neste colo delirante mergulhei o todo meu juízo e devaneio. Sob as tuas águas profundas nunca me afogo, até teus redemoinhos marinhos são uma valsa melodiosa, girando-me para lá e para cá como a musa das canções da tua alma.
Amo-te como se de história tivesse dois séculos e meio e, tendo vivido todas essas vidas passadas, cheguei ao nosso encontro pronta para recebê-lo e compartilhar da nossa existência o mais gracioso. Amo-te como se houvera eu nascido hoje, sem nenhuma mácula no coração delicado, e entrego-te sentimento cândido que jamais vira outra coisa senão a beleza do mundo e do castanho da tua íris.
Devota-me, amor, tuas carícias e enamora-me neste glorioso infinito, é nossa a imortal eternidade.
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