O quarto era um mausoléu de lembranças que não eram nossas, onde o ar cheirava a lavanda e promessas não cumpridas. Os lençóis brancos sussurravam histórias de noites antigas, de amores de mármore tecidos em fios de seda.
Embriagadas de nostalgia, fizemos caber, em tão pequeno espaço, todo o inventário das nossas juras — esquecidas pelo tempo, lembradas pelo álcool e sepultadas novamente na sobriedade do amanhecer.
Teu sorriso foi clarão no estilhaço da noite, primazia dos teus enleios. Tuas palavras maviosas derretiam meu espírito em calor, ainda que a neblina fria embaçasse a janela.
Nos consumimos, até não restar mais nada a ser dito sobre essa fantasia de outono perene, onde as folhas nunca caem totalmente, mas também nunca se renovam.
E agora, o inverno se insinua sobre nós silenciosamente.
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