Eu menti para mim (sobre você)

Houve um tempo que eu acreditei ser senhora dos meus próprios sentimentos, como quem finge caminhar sobre águas calmas, sabendo do abismo que aguarda sob a superfície. Sussurrei para mim que você não passava de um capricho passageiro, uma travessura de almas errantes, e o pouco que me tinha a oferecer era suficiente para o espaço estreito que ocupava na minha vida.

Me chamou para ir embora. Para São Paulo, para Barcelona, vamos partir daqui! Gargalhei na sua cara. Um riso gostoso que me escapou aos lábios. Que outra resposta haveria para tamanho desvario? E sabia também que não falava sério. Dificilmente posso levar-lhe a sério. Promete-me o amor, sempre no passado, sempre no "e se", sempre no arrependimento de não ter me dado o que poderia ser nosso, enquanto eu ainda estou aqui. Para daqui outros anos, lamentar novamente os mesmos erros.

Diz que está aqui, mas é de uma presença tão inconstante que não tenho crença alguma na permanência. Hoje é meu, intimamente, completamente, freneticamente. Amanhã, deixa-me apenas ressaca e cama vazia.

Houve um tempo que eu acreditei ser senhora dos meus próprios sentimentos, e fingi descaradamente que você era minha poça rasa, piscina vazia. Mas toda vez que eu te mergulho, escorre dos meus olhos um oceano inteiro.


[essa é a última vez que eu te escrevo]

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