Eu te culpo, todas as vezes que o espelho se recusa a devolver meu próprio reflexo, buscando noutros o que não encontro em mais ninguém — porque o que me falta foi roubado por ti.
Eu te culpo por ensinar-me o amor tão inescrupuloso, servindo-me migalhas em louça de prata, meu próprio sangue em cálice de cristal, e batizando a ceia de banquete.
Eu te culpo por permitir que eu continue caindo nos teus precipícios, jurando-me um paraquedas que sempre falha na descida. E eu morro todas as vezes que acredito.
Eu te culpo por ser o antídoto e o veneno que me consome da carne aos ossos, enquanto alenta meu espírito numa agonia doce.
Eu te culpo por enraizar-se nas minhas entranhas e fazer de nós tão eu mesma, que não sei onde termina tu e onde começa eu.
E culpo apenas a mim, por não saber amar outra coisa além do que tu amas. E tu, amas apenas a si mesmo.
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