Há três dias que chove, lampejos de trovão cortando o céu (da minha boca) em som e luz. Lá fora também está um temporal, ninguém quer sair na rua e encarar o aguaceiro.
Aqui dentro, eu não quero levantar da cama, desentupir o nariz e enxugar os olhos com toalha molhada.
Eu quero cair nos seus braços, secar meu rosto na sua camisa de linho preta. Fizeste a escolha da sua vida, mas ainda sussurra meu nome para as estrelas todas as noites de lua cheia quando ela não está ouvindo. Agora cicatriza tua dor, tal como eu, em corpos que não são os nossos.
Não escreve-me mais cartas, porque elas sempre acabam molhadas pelo meu pranto ressentido. E agora, um abismo tão pequeno, mas tão profundo nos separa outra vez. Como pode uma estima tão poderosa, submeter-se ao açoite do destino?
Emolduraste o amor em gaiola de vidro; para que seja visto, jamais tocado. Não posso sentir, não posso eximir. Arrancaste de nós a possibilidade de fazer deste substantivo trivial, verbo conjugado.
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