Você atravessou a porta e foi embora, não disse nada. Enviou carta selada “Devo ir, não posso ficar, não digo o porquê.”
Eu sei que três anos atrás tomei essa mesma decisão, mas eu sempre soube que retornaria em alguma lua de outono. O seu adeus, por outro lado, tem nuances de infindável, sem prazo nem interrupção.
Gostaria de dizer que fique, que pense um pouco mais. Que adie a partida. Faria diferença? Acho que sim, se eu soubesse que seriam os últimos dias. A gente nem se viu! Há quatro anos só o que tenho é a reminiscência dos enleios do teu perfume e do roçar da sua barba.
No seu correio perguntei, “mas depois de tantos anos neste lancinante hiatos, agora que estamos aqui, separados pela vida que aconteceu, não podemos ficar?”
Não podemos, você me disse.
Mas eu ainda escutava o seu chamado na madrugada; nossas músicas ecoando do seu fone até mim pelas ondas álgidas de inverno. Derramou-se no meu espírito tua lágrima silenciosa, transparente como as minhas próprias. “Eu sei que você também sente. Uma última conversa, é o que peço, respostas”, enderecei.
Você resistiu,
por seis minutos.
E então veio aqui, dirigiu até minha garagem para me dizer tudo o que não pudemos dizer em todos esses anos.
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