A loucura é um pêndulo que balança na frente dos meus olhos ameaçando infestar-me do indizível, daquilo que nem posso imaginar, seja porque desconheço ou porque seja tudo o que sei. E se a loucura é tudo o que sei, não saberia que já estou louca. Às vezes acho que estou, às vezes tenho certeza.
Os sintomas me acometem, não sei se de poesia ou de distúrbio. Acho que os dois. Não consigo dormir, não consigo pensar, mas penso em tudo o tempo todo. E chego a lugar nenhum nesse labirinto de Dédalo que se fundiu na minha alma. Quero chorar, quero gritar. Não choro, mas grito o tempo todo. Gargalho muito também, até as lágrimas escaparem os olhos de tanto rir. Delírio ou felicidade? Não sei, mas não gostam que eu grite.
Eu queria parar de sonhar, dessas pessoas que não lembram de nada ao amanhecer e o dia inicia no instante que abrem os olhos. O meu começa quando fecho. Sonhos luminosos, intensos, eternos, mais vívidos que a verdade. Eu acordo e parece que estou dormindo. O dia inteiro não sai da minha cabeça essas memórias inventadas, esses espectros da realidade. Versões que criei das pessoas, dos cenários, de mim mesma. Viver é melhor que sonhar, Elis, mas não sei fazer direito nem um, nem outro.
Tem remédio para cessar obsessão? Não tenho problema em ser triste. Isso eu sei ser muito bem, transformo em arte, poesia e novo corte de cabelo. Eu quero apenas desligar. Calar essa voz, pensar que sou normal. Ver as coisas simplesmente como todo mundo vê. Abro mão da extravagância se necessário, renuncio a singularidade. Arranca essa insensatez e faz de mim um ser banal. O que eu mais quero é ser comum.
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