A quarentena mexe com a gente

O colapso de escala global tem me feito pensar — mais que o usual, — na fragilidade das nossas certezas. Apesar dos nossos anseios, dormimos com a indubitabilidade do amanhã. O eu do futuro lida com esse machucado, o eu do futuro toma essa decisão, o eu do futuro diz como se sente, diz que tem saudade e pede desculpa, assim como também perdoa. Eu, não.

Diante da dilaceração dessa estabilidade, a hecatombe emocional rasga os sentidos. Todos os axiomas desvanecem em vontade de tudo que estava para amanhã, quando este não está mais seguro. Os abraços adiados são agora delírios de um sonho lúcido e se mês passado eu soubesse onde estaria agora, teria feito diferente?

Contrariando Renato Russo, não temos todo o tempo do mundo. Ludibriada pelo enclausuramento e poesias piegas encapsuladas, digo que as coisas mais valiosas não tem uma etiqueta de preço e que a maioria delas não pode ser tocada.

A gente só sente falta do que foi adiado para o futuro, quando é arrancada a liberdade de fazer deste, presente.

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