Encontrei descanso no teu corpo caído
Despencou das minhas memórias como uma jaca madura se desprende da árvore e espatifa no chão —
desta vez, não fui eu quem se despedaçou.
Levou contigo um ou dois galhos do meu tronco quebradiço,
mas minhas raízes fincadas nesta terra fresca sequer notaram a ausência do teu peso.
Ao eclipse da tua partida sucedeu uma deslumbrante aurora boreal,
clarões cintilantes de consciência.
Fantasmas não sobrevivem à luz
e o teu exorcizei há muito tempo atrás.
Como uma mosca, atraiu-se pelos fulgores do meu espírito resplandecente,
alimentou-se do meu calor e dos enleios desta minha alma,
até derreter tuas falsas asas de cera e findar-se no mar Egeu do esquecimento.
Que este breve encontro de duas décadas
tenha sido nada mais que um erro de cálculo,
um engano de uma chama
que ardeu por tempo demais,
consumindo até o que não podia queimar.
E que, ao apagar-se, deixou apenas as cinzas
de um fogo que nunca soube quando parar.
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