Tus dulces ojitos


Um formigamento percorre meus dedos, subindo até a palma da mão, que tremula à tua presença. Sinto escapar de mim dois suspiros, e no peito, uma vibração inquieta que teme ser desvendada. O coração, descompassado e urgente, parece querer romper a barreira dos ossos, da pele, da roupa — como se tua proximidade pudesse revelá-lo, desnudando todo o furor que guardo em silêncio.

Bastou uma tarde para apaixonar-me, uma hora para conhecer-te o espírito e cinco minutos para atrair-me profundamente. Roubaste-me um riso delicioso quando diminuiu o ritmo da rede que, deitada, me balançava, com medo que espatifasse este crânio tão bonito no chão. Outro quando tentava replicar minha majestosa habilidade de agarrar o amendoim arremessado ao ar com a boca. E ainda mais um, quando, exaustos de subir e descer a escada centenas de vezes, rendemo-nos a sentar no térreo e ficar por lá mesmo até todos os convidados irem embora. E outros tantos sorrisos que te entreguei sem resistência.

Conheço apenas o toque da tua mão na minha, um aperto platônico, casto e e repleto de uma cumplicidade muda, num piscar de segundos um universo inteiro atravessa dois olhares e dispensa toda e qualquer palavra. Que a brevidade desses momentos, efêmeros como são, reflita-se inversamente proporcional à eternidade das lembranças que nos deixaram.

E, assim, o que foi fugaz torna-se imortal, guardado no silêncio entre um olhar e outro, onde o tempo, finalmente, se curva à nossa vontade.

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