Saudosa melancolia,
tu, que me consomes desde os primeiros feixes de luz da aurora até os anseios que precedem o adormecer das minhas entranhas.
Desculpe a indelicadeza, mas prefiro a tua ausência. Quando estás, traz consigo esta inércia profunda que me prostra o espírito e, sem tolhimento, ramifica em minhas vísceras sua frigidez de enfermidades do coração.
Sem ti, é verdade, não me resta muita arte para prover, mas, deuses, sobra-me todo o resto! Tens bebido de mim como quem se serve em porcelana fina e não posso enxotá-la, mas por favor, não se demore. Espero visita mais tarde — meu eu, que há tanto se ausentou. Vê, melancolia, temos nos desencontrado, e enquanto te manténs aqui, ela não regressa.
E sinto-me falta. Tanta falta.
Leve contigo estas cores opacas, este sol que não brilha e tuas aflições infundadas ao sair. Guarde teu abraço moribundo na despedida, e saia da mesma maneira que entrou: despercebida e silenciosa. Deixa-me à janela, solene, a notar tua partida quando já não houver mais rastro teu aqui. Quando o perfume das rosas tornar a entorpecer meus sentidos e o toque da seda acariciar meus devaneios, saberei, melancolia, que já estás longe.
E isto me bastará.
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