O delírio que nos condenou à saudade eterna

Sou, para ti, poesia e poetisa a um só tempo. Teus olhos devoram minhas palavras como a terra sedenta acolhe a chuva após o longo estio. É um deleite ser a chama da tua inspiração, incêndio dos teus pensamentos. Escreva-me outras cem cartas de amor, que lerei todas as noites para inflamar-me da sua ode.

Que me sonhe, que me idealize. Que entre em mim e mergulhe tão intimamente até não estar mais em si.

Nesta fantasia sou teu ídolo, entidade divina para a qual ajoelha-se e pede que arranque-lhe o fôlego; entregas a carne e o espírito e desejas morrer apenas se for por amor. Inventou-me neste altar e fez-me deidade do teu âmago enamorado. Ama-me nos sonhos, em casa, no trabalho. Me inebria, te extasio.

Te quero em espanhol, te canto em italiano, te beijo em português. Embebedaste-me de euforia com toques primitivos e delicados, e agora todas as palavras tem gosto de frenesi. Um delírio que nos condenou à eterna saudade.


0 comentários