Concede à tua alma a permissão de sentir

Guardamos no cofre púrpura as fragrâncias profanas e confissões divinas de uma noite sem beijos; e fizemos o pacto silencioso de não tocar em emoções tão celestiais novamente, porque qualquer palavra desajeitada poderia macular a deidade desse sentimento tão puro.

Todas as noites eu tento escapar com a chave do cofre e espiar pela fechadura sussurros dessas memórias. Se colocar os ouvidos bem rentes a esta caixa de tesouros, posso escutar, bem de longe, suas declarações secretas, entre os ofegos da sua respiração e o farfalhar da madrugada. Roubo para mim um pedaço dessa lembrança, para dormir embalada nesse fragmento de paz. Uma colher de mel em dias que já são doces quanto você passa por eles.

Ainda que sagrado, gostaria que esse baú de ouro, de ferro, de violenta paixão, esmerilhasse em migalhinhas e libertasse à minha alma a permissão de sentir. Que habitassem novamente essas poesias em teus lábios e declamastes para mim, todas as noites, esse amor indômito e imortal. Contra todas as evidências de que não há vindouro para nós, deixe que levem à tribunal e nos condenem pela teimosia. Incendeia comigo essa chama, eterna enquanto queimar.

[e que queime para sempre]

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