Fazia tanto frio naquela tarde que os ossos rangiam sob o menor movimento. Seu braço apertou minha cintura com mais afinco e uma corrente quente correu às minhas bochechas. Estava apenas me guiando pra longe da chuva, mas o toque firme me fez arrepiar.
— Dez ou vinte minutos cessa a chuva. — Ela comentou, sem tirar os olhos do céu cinzento.
Não respondi e encostei na porta de madeira da igreja. Estava trancada, mas havia uma cobertura de telhas sob a entrada.
Minha respiração era nervosa e oscilante, o tempo nos afastara de casa, deixando-nos sozinhas deste lado do campo e sua companhia ardia meu peito. A distância que nos separava, por menor que fosse, doía as costelas. Como se meu coração distendesse em sua direção com força vertiginosa.
Ela notou que tremia minha mão e deve ter imaginado que de frio, porque entrelaçou-a na sua e puxou para si, guardando nos braços.
— Assim está melhor? — Perguntou, apertando mais.
Assenti. Temia responder e revelar na minha voz o quanto a queria. Que eu deixasse escapar entre as palavras que a amava.
Mas meu silêncio também era cheio de discursos e ela sabia ler-me como ninguém.
Aproximou-se mais e nossos ombros estavam grudados. Encostou seu rosto molhado no meu. Seu hálito doce misturou-se à minha respiração e seu arfar quente e delicado chegava à minha orelha.
Nosso amor silencioso era partilhado nesses momentos sussurrantes, como os suspiros que as árvores dão quando o vento beija suas folhas.
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