Olheiras e noites mal dormidas


Faz tanto tempo desde a última vez que coloquei algo no corpo que não fossem camisolas folgadas e uma dose diária de vodca seca. Empalideci sem o sol para incendiar minha pele e a cama tem gosto de meu único lar. Aprendi a conversar com a cadeira vazia e responder às minhas próprias perguntas neuróticas.

O que você vê são os trapos que restaram da noite mal dormida, as olheiras profundas das pálpebras melancólicas, os sonhos adoecidos e o futuro que vira resignação. Se não é pra ser não é pra ser. Se for pra ser, que caia nos meus braços, no meu colo, numa bandeja de ouro ao lado de um energético que me arranque da inércia.

As constantes tesouras que cortam meus frutos vêm de todos os lados — até das minhas próprias mãos. E se ninguém acredita em mim, que posso, que sou, assim como a Tinker Bell, desapareço, e faço daquelas palavras mal ditas minha profecia. Deixo que me digam até onde posso ir, que aparem as minhas asas e não me deixem voar tão longe. É perigoso demais, me contaram.

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