CRÔNICA | O dia que eu me comparei a Van Gogh

Três vezes na vida eu pensei que iria morrer. Em todas elas carregava a plena convicção de que sairia até nos jornais "ela sabia, ela vinha sentido isso há algum tempo, foi como uma despedida", como fazem com algumas pessoas importantes. E em todas elas estive errada. A última, por nenhum acaso, foi uma gripe, pegou-me de jeito e atirou-me na cama como um amante. Tudo que se fala em todos os lugares, qualquer portal de notícia e jornais que se lê, são as manchetes reforçando a letalidade daquele vírus maldito. Não poderia eu sair imune nem da minha própria paranoia.


À caminho do hospital, observando a paisagem do outro lado da janela aberta, deixava as memórias de toda a minha vida navegarem pela minha mente, as histórias que contariam sobre mim nos encontros entre amigos e família. Imortal, definitivamente. De forma alguma seria esquecível, pretenciosa ou não, acredito ser legendária como Van Gogh, talvez até meus textos ficassem mais famosos quando póstumos.

Estava mal, derrotada. Me sentia fraca e melancólica. Eu odeio ficar doente e odeio mais ainda hospitais. Pensei que se quando saísse dessa seria uma nova mulher. Ora, mais nenhum dos meus planos passariam batido. E eu tenho tantos! "Procrastinar" já não existiria no meu dicionário. Escreveria todos os textos que deixei para depois, pegaria a inspiração pelos braços e a enfiaria goela abaixo da minha garganta recém curada. O impulso irrefreável de reviver depois do que pareceu ser o fim.


Tudo que não é essencial fica pequeno — pelo menos nos primeiros dias. A vontade de mudar o mundo, comer saudável, entrar na academia, enviar mensagem para todos os amigos que estão sem contato há muito tempo, dizer o que nunca foi dito, trocar o emprego e mudar para o campo (ou para uma mansão). Ah, e no prazo de dois dias, por favor, antes que a motivação se esvaia novamente.

Sobrevivi, afinal este não é um texto psicografado. Escrevo-o com minhas mãozinhas e uma mente que não dorme, sonâmbula de sonhos. Costumava detestar essa característica, que faz a fantasia se misturar com a realidade nos floreios dos meus olhos. Pois que seja assim! Minha história narrada na biografia ultrarromântica e onírica dessa poesia que me faço ser.

Um passo de cada vez, então.
A meta atual é não mais morrer em vida.

(o resto eu consquisto)

Esse texto faz parte da série de crônicas autobiografia autorizada.

7 comentários

  1. Parabéns pelo texto!

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está de volta com muitos posts novos! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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  2. Olá Rebeca,

    Vim a retribuir a visita e dizer que adorei a sua forma de escrever. O nome do blog é bem convidativo. Quem não gosta de uma cafezinho de beira de estrada, não é mesmo? Você está ali, entediado na viagem e faz uma pausa para beber um cafezinho e seu humor e astral logo muda!

    A gente passa por situações na vida que parecem ser o fim. A morte é um fato, todos vamos partir em algum momento, mas nunca saberemos de antemão a data e a hora exatas.

    A personagem Phil Dunphy no gif me lembrou o quanto essa série é divertida! Adoro Modern Family e as histórias (algumas vezes bobas) retratam bem o cotidiano!

    Gostei muito dessa frase: "A meta atual é não mais morrer em vida." É importante que a gente se lembre disso no cotidiano, não perder o fio da meada da graça de viver. Esse fio é essencial para levarmos uma vida cheia de significado!

    Um abraço!

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    1. Muito obrigada pelo carinho <3

      De fato, algumas experiências vem até para nos arrancar da comodidade e nos lembrar de viver.

      Um abraço!

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  3. O texto ficou maravilhoso 😍👏🏼 melhor ainda porque falou sobre você .
    Minha escritora linda e sensível! 💛

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  4. Também já pensei que fosse morrer algumas vezes.. as promessas de não procrastinar mais e fazer mais coisas só dura um tempo né, depois volta ao normal! Hahaha
    Amei seu blog!
    Abraços!

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  5. Oie ! Que lindo texto, e reflexivo, eu amei ♡
    www.blogresenhando.travel.blog

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