MINICONTO | A alma rebelde que rouba o meu juízo


A risada ecoava por toda a mesa de jantar, entusiasmada e vibrante. Rosalinda gargalhava, metendo a mão no antebraço do homem à sua direita no movimento involuntário do seu riso indomável. Seus cabelos castanhos caíam bagunçados para trás quando, enxugando as lágrimas e com a mão na barriga, implorava que, por favor, parassem de diverti-la. Não fosse a minha educação, reviraria os olhos com intensidade que deslocaria meu globo ocular, tamanha irritação causava-me sua companhia.


A presença infernal de tal mulher, que age como dona do próprio destino, inquietava minha mais profunda serenidade. Que pensava ela ao desprezar a polidez que habita o âmago feminino desde o seu nascimento? Dos seus lábios deveriam sair somente as palavras mais belas do dicionário, mas do contrário, contava das histórias burlescas que habitavam em sua memória. 


Onde tocava os seus pés, atraía magnética todos os olhares para os enlevos da sua áurea. E como era difícil esquivar-se das armas letais da sua fragrância de autonomia. Os homens curvavam-se para cumprimentá-la e as mulheres ansiavam por escutarem de suas aventuras.


Nunca, em todos os meus anos, deparei-me com tão audacioso caráter; Rosalinda vivia aos próprios modos, as regras morais e mundanas não lhe abstinham. Que mulher dos diabos essa que desassossega meu sono com sua independência! Seria tão bonita se não fosse tão rebelde. 


E que posso eu dizer, senão, que sua insubordinação é o que me inspira? Não é bonita esta ninfa, é divina. Uma obra dos deuses que, enviada à Terra para reiná-la, acaba por esvanecer minhas convicções e fazer de mim seu cativo admirador. Não passa a minha indignação de véu para cobrir o fascínio pela sua liberdade.

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