Sobre todos os garotos que já amei


Tomás foi meu primeiro amor — e beijo. Conhecemo-nos na escola, quando eu era demasiadamente esquisita e ele tímido em igual proporção. Seus amigos riram quando lhes contou da sua queda por mim e, do outro lado, minhas amigas tentavam convencer-me a esquecê-lo. O que, evidentemente, não funcionou, uma vez que, em algum momento das férias de natal, nossas ligações tornaram-se rotinas noturnas de horas e horas ao telefone confidenciando nossa bobagem primaveril. Meses mais tarde, Tom pediu-me em namoro com tal romantismo que nenhum futuro pretendente poderá alcançar (e não espero que o faça). Inevitavelmente, nosso relacionamento definhou e, depois de trinta e dois meses, desfez-se em lágrimas.

Jacob foi minha maior perda. Nosso encontro de almas aconteceu de forma mais imprevisível que um bilhete vencedor de loteria mas, de forma nenhuma, acidental (o escritor de destinos, que desenha nas estrelas, uniu nossos caminhos naquela encruzilhada). Sabíamos que estávamos fadados a devastação e não queríamos evitá-la. Antes do fatídico e pungente naufrágio no oceano deste amor, entretanto, quebrei ainda dois corações. Diante disto, conclui-se que o carma sempre cobra seus devedores e, desgraçadamente, eu estava engolfada em dívidas. A Carlos e Miguel, meu sincero pesar.

Ele era mais velho que eu uns oito anos, tinha barba, uma banda de heavy metal, um diploma em psicologia e sua vida era uma aventura que eu irrevogavelmente precisava viver. Fui cento e dezessete porcento sua e jamais serei de alguém novamente. Jacob sabe que estar comigo desperta a melhor parte de si e também o seu pior — e é recíproco. Portanto, depois de liquefazer-me em seus braços, ele foi embora e, com cartas abarrotadas de desculpas fajutas e esperanças vazias, sufocou-me com ausência.

Fernando foi meu segundo namorado, quando eu jurava que jamais apaixonaria novamente. Hoje, nossas memórias parecem um borrão de risos gostosos, carinho intenso e um fim de semana na roça de meu pai — o que considero nosso melhor momento juntos. Presumo que precisávamos esbarrar no outro e sou grata pelo que crescemos juntos. 

Tomás nunca foi embora, no entanto. Conquistou o posto confuso e caótico de meu melhor amigo entre beijos e conselhos. Pelo menos uma vez ao mês eu sonho com o Jacob e não há um dia que passe e que eu não sinta a sua falta. Hesitante, questiono-me se tomei a decisão certa fugindo do que quer que Carlos e eu estivéssemos construindo. Teria eu feito algo diferente se conhecesse estes capciosos epílogos? O que acontece, afinal, se você teve o amor da sua vida nas mãos e deixou-o escorrer como areia pelos dedos? 

10 comentários

  1. E mais um texto que você me deixa de boca aberta kkkkkkkkkkk(tears) moça, sua escrita é fascinante! Meus sinceros parabéns.
    É tão fácil ficar perdido em devaneios sobre o que poderia ter sido; e no futuro, devanearemos sobre o que podia ser agora. Os templos melancólicos do passado são sempre acolhedores demais para o nosso próprio bem.
    Gratidão por compartilhar com o mundo sua arte!
    Com carinho, Nina
    www.entremcc.blogspot.com

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    1. Seus comentários aquecem meu coração, Nina. Gratidão enorme por isso!
      "Os templos melancólicos do passado são sempre acolhedores demais para o nosso próprio bem." Você descreveu perfeitamente, a nostalgia é mais fácil de lidar do que o desconhecido que esconde-se no futuro e todas as suas possibilidades. Sigo em busca de um equilíbrio entre ambos.
      Você é maravilhosa.
      Com carinho,
      Beca.

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  2. Menina, que texto! Que escolha de palavras tão bem feita, tô com a cara no chão.

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    1. AI QUE SAUDADE DE TU, MULHER ❤️❤️ obrigada pelo carinho, fico muito feliz que voktou a atualizar o Florejar
      🌹🌹

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  3. Ahhhh quantos amores <3
    Na vida eu tenho uma Tomás hahaha e sempre tive o apoio dele. Não demos certo, mas ficou uma amizade - inicialmente conturbada - maravilhosa hoje..
    Adorei seu texto *_*

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    1. Ah, meu Tomás também, hoje somos melhores amigos!! Acho que todo mundo merece um destes haha
      Muito obrigada, minha flor ❤️

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  4. Eu já me apaixonei por tanta gente que nem me atrevo à escrever um texto assim hauhua

    Com amor, ♥ Bruna Morgan

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  5. Friend, que texto é esse? Sinceramente, estou no chão. É doce e forte e sensível e reflexivo e eu não estou sabendo lidar com tamanho talento <3
    "Fui cento e dezessete porcento sua e jamais serei de alguém novamente". ARROCHA! Me quebrou no meio.

    Amei, linda <3

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    1. Linda!
      Muito obrigada pelo carinho, de coração.
      Um beijo!

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