Eu quero ir embora também


Estou sufocada pela sua frustração, submergiste-me no meu fracasso, que foi, a óleo sobre tela, monocraticamente pintado e exposto. Derreti-me nos velórios dos seus sonhos para meu futuro e morri a cada decepção. Doravante, cega pela neblina mórbida e venenosa da tua projeção de mim, despenco meus braços ao lado do corpo e desprendo os punhos, abstendo-me da luta contra meus próprios demônios.

[tornei-me eles]

O peso de todas as renúncias e compilados de escolhas ruins esmaga os estilhaços que restaram da minha identidade. Quem um dia fui é, agora, espectro que assombra meu reflexo.

Sozinha, no poço onde escondo as consequências corrosivas do ácido que corre no meu sangue, guardo uma fera destrutiva que só um Lobo¹ atreveu-se a abraçar (e  fugir dilaceradamente logo depois).

Ninguém ficou e eu não pediria que ficassem;
eu quero ir embora também.

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