Vigésimo segundo primeiro dia de novembro

Hoje eu faço vinte e dois anos.

A coisa mais estranha do mundo é que eu me sinto tão ultrapassada mesmo sendo tão jovem. É a crise da nossa juventude, consumida por tudo aquilo que ainda não foi conquistado. Porque alguém em algum lugar aos dezessete anos formou-se em medicina e a filha de uma família rica abriu sua própria empresa aos dezenove, teve também o rapaz noticiado no jornal que ganhou o Nobel da matemática aos vinte e um. E você (nós), reles mortais, seguimos com nossa vida despretensiosamente trivial.

Eu sei que a cultura pop da mídia social espera de nós um texto motivacional no aniversário, é que simplesmente não faz o meu tipo.

Hoje eu faço vinte e dois e me sinto mais perdida que aos dezesseis. Aos quinze, eu superficialmente sabia que o que estava fazendo e para onde estava indo: eu tinha que estudar, passar de ano e continuar minha vida acadêmica até o vestibular, onde eu conseguiria um diploma, teria uma carreira bem sucedida e, na vida adulta de uma profissional de sucesso, viajaria a cada ano para um lugar diferente no globo. Claro que nada no universo sai como a gente espera e, apesar de ter, milagrosamente (até hoje eu nunca entendi como), passado de primeira numa universidade estadual (talvez, na época, eu fosse mesmo o tal gênio preguiçoso que falavam que eu era, inteligente sem nenhum esforço — uma pena que a magia acaba antes da meia noite), fracassei nesta miseravelmente. Fracassei em centenas de coisas desde a mocidade, para ser sincera.

Sabe aquela história do copo meio cheio, meio vazio? Sua ótica sobre a vida responde por você: cada dia que passa é um dia a mais ou um dia a menos? Surpreendendo um total de zero pessoas: para mim é sempre a menos. Eventualmente o desespero deixa-me ofegante e confusa, boa parte do tempo, todavia, eu tenho consciência que estou caminhando... para algum lugar. E que frases de auto ajuda não podem mudar meu universo, por mais sentido que elas pareçam fazer no momento, na semana seguinte elas soam completamente desconexas. E não me venha com "quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve", eu já disse isso por pelo menos cinco anos numa tentativa fajuta de soar filosófica.

A mudança não vem de fora. Ela começa como um feijão embrulhado no algodão como o que você fez na aula de ciência. Você rega com parcimônia, você cuida, se esforça e espera. Um descuido e ela morre, e tudo bem começar de novo. Tentar de novo. Uma hora você, inesperadamente, planta feijões mágicos que brotarão até os céus infinitos, com raízes firmes e sólidas.


É o que eu faço, um dia de cada vez eu rego o pé de feijão dentro de mim. Alguns apodrecem, morrem de fome ou desaparecem engolidos no buraco negro que se esconde no meu sistema nervoso. E eu continuo embrulhando algodões de força de vontade em sementes de esperança, porque, apesar de odiar frases de efeito, não importa quantas vezes você cai, apenas quantas vezes você levanta.

E, tenha certeza,
eu já caí zilhares de vezes — metafórica e literalmente.

Esse texto faz parte da série de crônicas autobiografia autorizada.

2 comentários

  1. Eu vou fazer 27 no mês que vem e me sinto da mesma forma. Mas é um exercício não se deixar levar pelo que diretamente ou indiretamente nos impõe. Vamos viver o que queremos e só.
    Borboletra ♡

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