Ele vem aqui ler meus textos e entrelinhas e ilusoriamente enxerga-se neles, acredita mesmo que é dono de cada verso. Fala alto quando está perto de mim e conta algumas piadas que nem sempre fazem sentido: seus olhares de esgueira não negam o quanto ele deseja que eu o note. Deve mesmo sonhar que eu sou como todas as outras.
Tá acostumado a jogar esse sorriso de canto e o cabelo para trás, mas, para seu azar, sou blindada a flertes baratos. Não é que eu não admita que sua íris é um oceano que eu quero mergulhar e como quero seus lábios me fazendo-me delirar, é só por isso que o deixo fantasiar que não conheço seu tipo. Ah, mas ele pensa que é o centro do meu universo.
Só porque tem um beijo que é uma delícia e eu me aninho em seus braços por um cafuné no meio da tarde, presume que estou caída por ele, quando, na verdade, quem tem que cair na real não sou eu. Você sabe o que dizem, bons jogadores perdem por acharem que só eles sabem jogar. Deixo ele supor que cada palavra que escrevo é dele. Deixo ele brincar de ter seu espaço em mim. Deixo-o entrar e se bagunçar. Só não o deixo vir tentar, porque não vai ser bom.
Texto inspirado na música "Só que não" de Circo de Marvin.
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