O ponteiro do relógio denunciava que uma hora já havia passado há vinte e três minutos. A bolsa da mulher de cabelos escuros estava aberta sob a escrivaninha e o pagamento certamente seria bom dessa vez. Fizera, no fim das contas, um ótimo trabalho. Se é que pode-se chamar assim. A voz do homem deitado ao seu lado ecoou pelo cômodo de forma fria e monotonamente carinhosa:
— Acabamos por hoje, querida. — Deu um sorriso amarelado, afastando os lençóis brancos que cobriam seus corpos nus.
A senhora pegou sua bolsa vermelha a contragosto e arrancou trezentos reais de lá. Ele estava valendo bastante, afinal, o mercado não era tão amplo quanto o do sexo oposto, então tinha seus luxos ao cobrar mais caro. O rapaz, não mais do que vinte e poucos anos, ou seria trinta? Não dava para dizer, era tão maduro e ao mesmo tempo tão jovial e bonito. Ela admirou de longe os músculos desenhados nas costas recentemente arranhadas do mancebo, enquanto este vestia a cueca boxe cinza, Calvin Klein, que ela mesma dera a ele em um de seus encontros.
A mulher tinha uma vida fora daquele apartamento alugado para os dois, no entanto, ele nunca arriscaria perguntar a respeito. O rosto dele abriu-se em um pequeno sorriso que por milésimos de segundos fora sincero, mas a realidade era um soco no seu abdômen definido e tudo aquilo não passava da sua encenação. Coisa que sua cliente já era acostumada e que, de certa forma, enxergava um certo charme naquilo tudo.
Quando o cinto foi abotoado e só restava a camisa azul para cobrir seu tronco, o rapaz esticou os braços para pegar as duas nota de cem reais e caiu em cima da madame quando a mesma puxou o dinheiro.
— Não sem um beijo. — Ela desafiou, maliciosamente.
— Sem joguinhos, querida. — Mesmo assim, puxou-a para si e a tomou num beijo cheio de desejo, indecência e mais qualquer coisa, menos amor. Assim, arrancou as notas de sua mão. — Vista sua roupa.
Era óbvia a insatisfação da mulher ao atravessar a porta em seu vestido preto, contudo, não era segredo para nenhum dos dois que aquilo se repetiria mais dezenas de vezes. Porque era o que faziam, supriam o vazio um do outro temporariamente. Um no bolso e outro na alma.
Texto inspirado na música "Garoto de Aluguel" de Zé Ramalho. Espero que não tenham odiado.
Gente, que texto ♥ Ficou muito booom, consegui entrar na personagem e ver a cena com todos os detalhes possíveis. Obrigada pela viagem.
ResponderExcluirAi, moça, eu é que agradeço: muito obrigada! Estava receosa que vocês não fossem gostar rs ♥
ExcluirQue coisa linda !
ResponderExcluirconsegui imaginar a cena ♥ Ficou muito envolvente.
Oh, muito onrigada, Nessa ♥ fico feliz que tebha gostado.
ExcluirComo odiar? Porque eu simplesmente amei! Como a Kelly e a Vanessa disseram, consegui imaginar toda a cena, como um participante intruso da cena que tem uns poderes a mais e sabe distinguir os sentimentos. É engraçado que por mais que pareça uma coisa libertinosa e tal, nunca se sabe o que se passa psicologicamente em que tira dinheiro dinheiro disso e de quem tira prazer. São coisas que nem a gente pode entender, mas que você, com um olhar perspicaz ao menos soube decifrar um dos tantos motivos possíveis. Adorei!
ResponderExcluirTá rolando uma pesquisa de público lá no Quinta Gaveta! Sua opinião é muito importante pra gente.
Beijo, Selma Barbosa | Quinta Gaveta ❤
Muito obrigada, moça, mesmo ♥ me deixa alegre saber que consegui te fazer sentir a cena. E são mesmo tantas coisas que mexem com o psicológico dessas pessoas... obrigada de novo!
ExcluirRespondi teu formulário♥ mil beijos
Texto muito bem escrito, além de imaginar a cena pude sentir um pouco dos sentimentos dispostos ao longo da narrativa. "Nossa relação acaba-se assim, como um caramelo que chega-se ao fim na boca vermelha de uma dama louca. Pague meu dinheiro e vista sua roupa"
ResponderExcluirDe fato é uma vida muito vazia de amor. Nenhum dinheiro pode suprir o que os dois realmente precisam para viver.
Bela interpretação da música.
Bjs, Rebeca. Gostei muito do blog, você escreve muito bem.
Ah, você conhece a música ♥♥
ExcluirMuito obrigada pelo comentário, é bom saber que consegui transmitir o que queria.
Espero que continue gostando rs ♥ mil beijos
Não conheço a música e confesso que no início eu não sabia bem do que o texto tratava.
ResponderExcluirAté que chegou em um trecho e eu fiquei tipo >> :O, tô entendendo <<.
Apesar de não perceber de cara o que era, eu consegui imaginar a cena, do mesmo jeito que outras pessoas comentaram aí.
Enfim, achei maravilhoso. Sua forma de escrever é demais!
http://letrasfloresecores.blogspot.com.br/
Eu adoro essa música rs recomendo.
ExcluirE muitíssimo obrigada pelo carinho, de verdade ♥
"Um no bolso e outro na alma." Perfeito. Lembrei da música de Zé Ramalho, quando entendi do que se tratava o conto. Achei genial.
ResponderExcluirAh, você conhece ♥ muitíssimo obrigada, fico feliz demais que tenhas gostado. E bem vinda!
ExcluirOMG! Eu fui ate pesquisar a musica porque eu achava que nunca tinha ouvido! PARABENS PARABENS PARABENS. Muito bom o texto. Voce conseguiu me passar todo o vazio que se sente por viver uma sitaucao assim. Estou feliz em ter voltado das minhas ferias lendo o teu blog Beca! Que 2016 venham muitos mais textos assim! Beeeeijos
ResponderExcluirMuito obrigada, Beca. Fico feliz mesmo que você tenha gostado *-*
ExcluirMil beijos!!
Gostei. Tem desejo mas tem muita sinceridade e realidade.Valorizo textos assim que são escritos com maturidade e muito pé no chão! Parabéns!
ResponderExcluirQuerido Deus,obg por me exportar
Muito obrigada mesmo, moça s2
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