Aquela coisa que eu odeio


Hoje eu fui ao salão fazer o cabelo (sinceramente, fui só porque minhas aulas na faculdade vão começar, porque meu deus que preguiça), com aquela roupa que a gente não escolhe, apenas abre o guarda roupa, ainda com os olhos espremidos incomodados com a claridade, e pega a primeira coisa que sua mão consegue apalpar, no meu caso, uma legging de gatinhos rosas e uma blusa cinza. Ta, Rebeca, e daí? E daí que eu saí da minha casa com minha habitual matinal cara de poucos amigos, e o que me reservou o destino (ou azar, ou carma, ou sei-lá-o-nome-disso)? Um senhor com cara de poucos princípios passando por mim na rodoviária, que analisou-me de cima a baixo como uma carne em exposição no açougue e vomitou a palavra "goXtosa", naquela entonação silábica asquerosa e repugnante. Já tentei me imaginar em situações como essa, muito embora, nunca soubera o quanto a situação é abusivamente detestável, especialmente nessa manhã desagradavelmente abafada.

"Eu não acredito que escutei isso", lembro-me de pensar antes de qualquer outra coisa. Ao virar para trás, o homem já descia as escadas, satisfeito com seu "gesto tão gentil ao elogiar uma moçoila".  Eu queria ir atrás dele e falar (provavelmente gritando) para aquele indivíduo o quanto isso é nojento. No entanto, claro que minha única reação foi entoar em alto e bom som as três palavras mágicas: "filho da puta!". Eu não sei reagir perante a raiva, admito e não me desculpo.

Certamente há pessoas, e, surpreendentemente, com "pessoas" eu incluo uma mulher aqui e outra ali, que acham essa reação exagero ou "nossa que bobagem". Não é bobagem. Não é exagero. É assédio. É humilhante. Não é elogio e não é bem vindo. Um "gostosa" do seu namorado é diferente, é íntimo, é sincero e é entre vocês. Um "gostosa" de um marmanjo na rua é infame, é vergonhoso e invasivo, e não é necessário ser feminista para reconhecer isso.

Quis compartilhar com vocês porque sei que milhares de mulheres passam por isso diariamente e apesar das lutas e conquistas, ainda temos muito para alcançar.

E qual é a sorte de hoje? Meu cabelo está lindo!

2 comentários

  1. Excelente texto
    Infelizmente ainda existe "coisa/homem" caminhante e falante que acredita q esse vernáculo é elogio.
    Ja quis bater em um nas ruas de Itabuna, por causa de uma olhada na minha filha pequenininha na época.
    Bjs
    Carla

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  2. Exatamente, infelizmente essa raça ainda não foi extinta.
    Ah, conheço uma mãe assim também...
    Beijos.

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