Eu sobrevivi a invernos longos


Quis compartilhar todas as minhas paixões com você, no segundo em que notei o meu primeiro descompassar arrítmico ao seu lado. Queria falar sobre o meu amor por cinema e o quanto era difícil admitir que nem a literatura me ganhava tão facilmente. Na minha idealização, você adivinharia o meu filme favorito e riríamos do quão clichê eu era. Eu ia gostar de olhar o céu do seu quarto, enquanto me deliciava descrevendo as cenas favoritos daquele romance previsível. Quando falar sobre filmes fosse repetitivo, eu ainda mostraria os quadros que pintei em tardes frias de Julho, sob neblina e o som de John Mayer. Um quadro específico prenderia a sua atenção e eu finalmente te contaria de onde vem essa minha obsessão por flores. Riríamos do quão clichê eu era. É que quando eu tinha noves anos, um desenho antigo me ensinou que as rosas sobrevivem ao mais rigoroso dos invernos, e eu me apaixonei por elas. Você entenderia porque é tão fascinante para mim rabiscar rosas vermelhas no corpo e nos papeis, nas paredes e nos quadros. Com nove anos de idade eu não compreendia como algo de aparência tão frágil suportaria outro algo, aparentemente mais forte. Com nove anos de idade eu não entendia, mas com dezenove, eu entendo. Eu sobrevivi a invernos longos, frios e rigorosos. E continuei bela e inteira, ainda que os meus poemas me façam parecer esmagada entre pedaços. À essa altura, eu não precisaria compartilhar com você a minha mania de escrever inúmeras metáforas com rosas, você já saberia.

4 comentários

  1. Eu ainda estou processando esse texto... Tô assim ó:

    Carregando....50%......60%....67%...

    Eu me vi nessa narrativa com amores, amizades e parceria de negócios que não deram certo. Até mesmo relacionamentos familiares. Vou parar por aqui porque ainda estou exalando encanto com o que li. Você arrasa!!!

    beijos

    www.vivendolaforanoseua.blogspot.com

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    1. Eu simplesmente amo o seu cuidado em ler com intensidade! Espero vê-la sempre por aqui. Beijo!|

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  2. Estou sofrendo em nostálgicas memórias que esse texto me trouxe. Afinal a gente sempre acaba se escrevendo de uma forma ou de outra, né amiga?
    Sua poesia é lindaaaaaaa, não canso de dizer.
    E reservo-me a senti-la e secretamente refletir sobre como me coube tão bem.
    Mil beijos da sua fã

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