Amor, é sobre amar


De onde veio a ideia de escrever sobre algo que eu não entendo, ninguém sabe. E, no entanto, cá estou, pela septuagésima vez, fazendo exatamente isso. Por ora, estou convicta de que não estou apta a amar (e a muitas outras coisas também, que formariam uma lista interminável). Não posso dizer, de nenhuma forma, que não sinto, sinto muito! E não é suficiente. Amar não é (apenas) sobre sentir. É sobre centenas de outras coisas que não são tão fáceis como nutrir um sentimento só seu.

Amar é enxergar o outro. O outro como um indivíduo singular tão humano e completo como você. Alguém que não é metade da sua laranja e que não precisa de você para viver ou ser feliz, mas que escolhe diariamente compartilhar isso com você. Vice-versa. Entender isso é um ponto fundamental para abster-se do famigerado sentimento de posse. Estar com alguém é uma escolha mútua que parte do princípio de que isso será bom (ou mais que isso) para ambos, e não implica em nenhuma subjugação ou custódia da sua liberdade para o outro.

Amor não vem sem admiração. Não há nenhum embasamento científico ou notórias fontes filosóficas, exceto minhas análises, no entanto, acredito que todas as formas de amor bebem desta fonte. Você pode se encantar por alguém muito bonito, ou por um discurso super inteligente, contudo, admirar o outro em sua essência é o que alimenta o sentimento constantemente. 

Amar é respeitar. Em todos os aspectos da palavra. Somos todos personagens diferentes uns dos outros, este é o elemento substancial que faz o mundo evoluir e é também a origem principal de todos os desentendimentos da humanidade. Quando você tem a mesma visão sobre algo com alguém, não existe debate, pois há um consenso de opiniões (que satisfazem o ego). Entender que ninguém vai concordar com você em tudo cem porcento das vezes é o primeiro passo (e fundamental) para respeitar o outro e suscitar discussões saudáveis. Respeitar o a relação, o tempo do outro, seus gostos e suas particularidades também é essencial.

Amor é saber lidar com a unilateralidade. Amar alguém que não te ama de volta é muito mais comum do que aprendemos a lidar. Talvez por não sabermos escolher ou porque o sentimento é involuntário e resistente. Todavia, o outro não tem obrigação ante ao seu afeto. Sim, o Pequeno Príncipe nos disse que você é eternamente responsável por aquilo que cativas, mas isto me soa tão equivocado. Além de ser, provavelmente, o que mantém pessoas infelizes em relações que já estão esgotadas: a sensação de responsabilidade quanto a felicidade do outro. É inevitável à existência humana a experiência de amar sem reciprocidade: aprender a aceitar, superar e seguir em frente (nesta ordem), é o que te torna dono da sua própria liberdade. Emancipa-te do eterno luto de um amor não correspondido. 

Amor é aquilo que você precisa sentir pela sua identidade. Pela matéria que envolve sua alma e é refletida no espelho. Pela sua natureza peculiar, o âmago do seu próprio ser. O princípio vital do amor, é amar a si mesmo.

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