Eu achei que eu nunca não sentiria a sua falta.
Por tanto tempo fui parte de um nós,
que quando você não estava mais aqui,
eu tentei todas as identidades possíveis,
já que a única que eu conhecia era ser sua.
Mas essa já não me cabia mais,
o título foi passado adiante.
Eu andei descalça pelos vales de flores murchas,
pelas noites sem lua em que o sol nunca despontava,
e nunca fez frio, pois me queimava a saudade,
me alimentava a certeza de sua reciprocidade.
Como poderia você olhar para o mesmo céu vazio de tudo o que há
e não pensar em todas as estrelas que contamos juntos,
antes de se apagarem no nosso fim?
Eu sonhei tantas noites com o dia
em que eu deixaria a porta da frente aberta novamente para você entrar.
Você sabe que a tranquei porque seu fantasma irresistível
ameaçou assombrar-me para sempre se eu não o expulsasse.
Mas eu sempre tive uma espécie de certeza
de que, no momento que eu abrisse,
os planetas retornariam as suas órbitas,
a chuva cairia novamente neste solo seco,
nesses lagos mortos.
As rosas congeladas voltariam a florescer
na minha costela, sob minha pele.
Então eu abri.
Custou-me tantas centenas de noites perceber
que eu sentia falta, falta demais,
de ser amada por você.
De ser tão jovem,
de sentir tão demasiadamente cheia de certezas infundadas.
Deixar você ir não doeu apenas em ausência,
mas em crescer.
E agora que já não tinha mais seu amor
para suprir os pedaços que me faltavam,
o que seria de mim senão um retalho de nós?
Eu sentia falta de quem eu achava que eu era com você.
Até descobrir que hoje eu sou o sol,
as águas que banham todos os rios,
a eternidade das estrelas e para sempre parte delas,
a terra encharcada que alimenta o bioma da minha própria alma.
E você foi apenas uma passagem,
uma eterna
e grandiosa
passagem.
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