
Quando te conheci você tinha os olhos mais bonitos de toda a cidade. A doçura da sua áurea ultrapassava as barreiras que criei para abrigar meu coração machucado, desde a primeira vez que te vi. A cada sorriso teu do outro lado da mesa, meu peito, tão aflito, desmanchava-se em ternura, tão distinta era a sua presença para mim.
Você me deu uma das penas de suas asas e me pediu que lembrasse de ti. Certo que Shakespeare disse sabiamente uma vez, meu bem: “Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.” E eu não posso, nem agora, nem em cento e vinte reencarnações.
Te perder foi ver o sol se pôr pela última vez no horizonte laranja acobreado das rosas que plantei para você. Não restou nenhuma sem a fotossíntese da tua luz, nem no jardim lá fora, nem aqui dentro.
Te perder foi como petrificar meu espírito na maldição da tua ausência. E eu te espero, meu bem, nesta ou nas próximas vidas, você prometeu: vamos nos reencontrar. Nem mesmo a amnésia da eternidade poderia me fazer esquecer de nós.
Obrigada, meu bem!
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