Na estação de metrô com você

um dia desses eu fui parar bem longe daqui, do outro lado da minha bolha, na poesia que eu nunca poderia escrever, porque não me pertence. sob o pôr do sol, com sua blusa do Jordan vermelha, te vi cantar sobre a crueldade da polícia e a negligência do governo.

meus versos eu escrevo, os seus você recita no ônibus. e, logo eu, que analiso e traços perfis (com nenhum respaldo acadêmico) psicológicos, não posso te ler, porque você vai contra todos os meus precedentes.

no metrô, você me conta do seu passado e eu escondo todas as minhas histórias. te chamo pelo nome, embora ninguém mais o faça, e você acha divertido como eu tropeço em cada esquina e carrego os hematomas do meu desastre.

ainda que de cosmos tão distantes, a gente veio parar no mesmo hemisfério e, com uma sintonia meio esquisita, no fim do dia dá vontade de ficar um pouco mais.

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