Você quis que eu parasse de me entristecer por ter você em mim e por ter um milhão de pedaços seus formando uma constelação de nós aqui no meu peito. Eu deixei essa melancolia me abandonar e vi as suas migalhas serem varridas para fora da minha mente.
Eu me vi sem você e o mundo não é tão escuro como eu achei que seria.
Vi uma luz que não era o seu sorriso largo ao se levantar da cama numa manhã de domingo. Vi um brilho que não era o seu olhar úmido por ter chorado de alegria depois de ter me visto após longos dias de saudade mútua. Vi pontas escuras por onde passei e estas não eram os sinais marcados no seu corpo despido sobre o lençol emaranhado. Senti uma maciez indescritível nas bocas que beijei depois de você e nenhuma dessas reclamou do meu hálito de cigarro mentolado após o café.
Eu descobri que a claridade que eu via era somente uma ideia que eu tinha sobre você.
Você disse que se partiria em mil pedaços se eu o deixasse, mas eu estou te largando aos poucos e bem devagar. E você continua inteiro. Cada parte sua ainda permanece no lugar. Uma vez você me disse que o amor não doía e eu chorei feito um filhote de leoa, porque o que eu sentia por você me feria como as garras de uma fera. Outra vez, você me disse que um amor sem dor não era possível de existir, porque ultrapassar essa linha era quase fatal e as sequelas dessa conexão me fariam arder.
No final, eu soube que você jamais enxergou a minha dor. E aquilo que tínhamos: não poderia ser chamado de amor. Nunca foi, nunca seria.
Loucura de sonho naquele silêncio alheio!...
ResponderExcluirA nossa vida era toda a vida... O nosso amor era o perfume do amor... Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos nós... E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa carne, que não éramos uma realidade...
Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida, as achas dos nossos sonhos...
- Floresta do Alheamento (Fernando Pessoa)