"Moça, sai da sacada"

É que se questionar é normal. Faz parte, não faz? Me disseram que sim e eu, mesmo sem confiar em ninguém, me agarrei a isso. Acreditei. Porque eu me questiono, eu me interrogo o tempo todo. Eu me contrario, me contradigo, eu grito comigo, porque nem sempre estou certa. É que eu sei, mas eu não. Eu não suporto o meu trabalho e continuo lá pelas razões erradas. Eu amo artes e o que estou fazendo no prédio de exatas? Porque eu sou boa demais com números não quer dizer que eu deva viver com eles. Ou quer? Eu preciso de estabilidade é o que disseram-me a vida toda. Talvez por isso o curso de teatro tenha ficado para segundo plano. "Psicologia não dá dinheiro", meu amigo rico conta o contrário.

Eu fugi de mim. Por toda a minha vida foram me empurradas ideias errôneas em que sustentei toda a minha visão de mundo, e quando finalmente me é tirada a venda, eu vejo-me amarrada. Presa ao que construí. E se eu quisesse ser uma astronauta? Tudo bem, astronauta não, a lua é muito alta e eu morro de medo de altura. Mas e se eu não quiser segurança? Eu sou desequilíbrio, sou tudo ou nada. Não há "andar" comigo, estou voando ou estou caindo. 

Da última vez que me questionei tanto por tanto tempo, terminei um relacionamento de alguns anos. Eu já queria fazer isso, contudo adio até me consumir por inteira, até não restar outra alternativa, para que depois não possa me culpar por fazer escolhas erradas. Passei dois anos querendo tirar a química do meu cabelo, dois longos anos escrava de um cabelo liso que não era meu. Até que não havia mais nada a fazer, até que eu não me visse mais no espelho, então cortei.

Eu não quero esperar o limite. Eu não quero cair até o infinito para perceber que onde estou não é o meu lugar. Talvez possa ser algum dia, talvez eu acostume em algum momento. Mas agora eu não sou eu aqui. Ali. Lá. Eu sou voz, corpo, alma, dança. Eu sou um rabisco do universo que uma hora vira pó de estrela e quando isso acontecer eu quero ter a certeza que fui estrela na vida também. Que brilhei porque fui eu. Porque abri minha gaiola e voei. Porque eu parei de cair.

8 comentários

  1. Impossível não olhar o título e começas cantar a música né, engraçado que hoje fiz um texto com o mesmo tema/referencial.
    "Contudo adio até me consumir por inteira, até não restar outra alternativa, para que depois não possa me culpar por fazer escolhas erradas.."
    Essa frase me define.
    Beijo

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  2. É 8 ou 80 ♥ Acho que quando nos damos conta da imensidão que podemos ser, tudo se torna mais aconchegante, mais confortável e menos doloroso. O medo não conforta, mas ser inteiro sim. Texto lindo Beca.

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    1. Que frase linda, vou levar para vida, moça ♥ Obrigada e mil beijos!

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  3. Acho que a maioria de nós vive isso e você é uma felizarda por viver com consciência. Muito importante se dar conta do que realmente queremos em vários niveis. De alguma forma, algo começa a se mover. Leitura boa.

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  4. É isso, Beca! É isso!

    ''Eu sou voz, corpo, alma, dança. Eu sou um rabisco do universo que uma hora vira pó de estrela e quando isso acontecer eu quero ter a certeza que fui estrela na vida também. Que brilhei porque fui eu. Porque abri minha gaiola e voei. Porque eu parei de cair.''

    Acho os auto-questionamentos importantíssimos pra construção do ser. Mais que isso. Necessários! E o não ter medo de mudar, de terminar, de cortar mais ainda! Tem que fazer isso sim. Mil vezes, se for preciso. Até se achar, dançar, brilhar. Do jeito que se quiser ser.

    Maravilhosa ♥

    Baú de Canto

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    1. Tu que é maravilhoso ♥ E já sabe porque eu digo isso o tempo todo ahuasha.

      São sim, sem nos questionar qualquer rumo serve. Não há nada. E muito obrigada pelas palavras ♥ De verdade, seu apoio me deixa mais do que feliz.

      Mil beijos! ♥

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