Minhas certezas desmoronaram na última semana, e todas as noites atormenta-me o mesmo pesadelo. Não porque sinto sua falta — pelos deuses, que alívio me foi a sua partida! —, mas pelos quarenta e um meses que acreditei em uma versão sua que nunca existiu. As lágrimas que deixou no travesseiro, antes da saída furtiva não foram sobre o fim de nós, mas sobre o fim de uma interpretação. Como no teatro, quando desce a cortina sobre sua peça favorita, o que resta a encenar senão a amarga realidade?
Vejo, no entanto, que não custou-lhe muito a encontrar outra plateia para o teu espetáculo. As mesmas falas ensaiadas, agora sussurradas com frescor simulado, compõem o enredo da tua obra cafona. Contando a ela também, eu imagino, as terríveis ocorrências da tua última relação; a impiedosa prisão que mantiveram o seu amor — oh, quisera eu ter libertado-me muito antes.
Nunca foi amor.
E agora não é indiferença, nem ódio.
Reservo a ti apenas pena. Uma piedade melancólica.
Buscas no outro o que nunca vai encontrar em si mesmo.
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