tag:blogger.com,1999:blog-58093571416012666732024-03-14T21:54:00.523-03:00Café de Beira de EstradaPoesia agridoce, clássica e romântica em epifanias secretas de almas que sentem demais. Textos melancólicos e as mais belas cartas de amor já escritas.Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.comBlogger324125tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-40005507031882388502024-02-16T20:37:00.001-03:002024-02-16T20:37:20.600-03:00És fogo infernal e clarão da aurora celestial<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="424" data-original-width="443" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVffAQoCTMVA22t89OLmXrNXbOXjeb662g6Su_56deYjvnPFB84MEaE-BsCrQDxPqIpALY60YVLE2__zT3R36bY44jUMWpkpxQ1ucsDXDZ5REu3d5ygdpdroJ0VKJ_L01uYgV_M8eAalJQGsUvOUjqfS4Jxuz91-rfwqULp0XEDByRH3nWVwBhm69rQSg/s16000/27.JPG" /></div><p>Como uma melodia celeste, tua voz transcende a distância entre teus lábios e meu ouvido, transformando a própria geografia em serva e testemunha devota do nosso amor.</p><p>Entorpecida de impetuosa paixão, sagrada e profana, declaro-te todos os pecados da humanidade e ofereço a ti o primeiro deles neste jardim do Éden que habitamos.</p><p>Teu beijo escorre em meu corpo por lugares que só existem sob o seu toque. A mera menção ao teu nome de arcanjo ascende minha alma a enlevos sublimes.</p><p>Não fosse este mais um dos muitos desvarios dessa chama ardente, deixaria que escapassem, destes lábios vermelhos colados ao teu, as três palavras divinas, tamanha exaltação do sentimento que me subjuga.</p><p>Nestes tecidos de seda, sou tua deusa, teu crepúsculo e tua aurora; enquanto chamas o meu nome para recordar-me de onde estou e quem eu sou.<br />Mas eu nunca esqueci, sou tua.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-56399403611730894552024-02-14T20:26:00.006-03:002024-03-14T21:52:43.619-03:00O delírio que nos condenou à saudade eterna<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="684" data-original-width="695" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNEHF9a52_qSHwEaPK42LyrqeVStK4VLjdj9RpwIiLWQUm1wObWka9UiLoW8ggYFuraTMA2fR9VHex8WRtsdIs45bimyEifTmCrScJ_9DvDz0iVqe5r_LGYcsznSABeqfX4DNKVz3xnasG5n6fLex8C8zsTeFVwIWrFSQ3HIYxnl02ltLPkX0OQ-bF1hI/s16000/26.JPG" /></div><p>Sou, para ti, poesia e poetisa a um só tempo. Teus olhos devoram minhas palavras como a terra sedenta acolhe a chuva após o longo estio. É um deleite ser a chama da tua inspiração, incêndio dos teus pensamentos. Escreva-me outras cem cartas de amor, que lerei todas as noites para inflamar-me da sua ode.</p><p>Que me sonhe, que me idealize. Que entre em mim e mergulhe tão intimamente até não estar mais em si.</p><p>Nesta fantasia sou teu ídolo, entidade divina para a qual ajoelha-se e pede que arranque-lhe o fôlego; entregas a carne e o espírito e desejas morrer apenas se for por amor. Inventou-me neste altar e fez-me deidade do teu âmago enamorado. Ama-me nos sonhos, em casa, no trabalho. Me inebria, te extasio.</p><p>Te quero em espanhol, te canto em italiano, te beijo em português. Embebedaste-me de euforia com toques primitivos e delicados, e agora todas as palavras tem gosto de frenesi. Um delírio que nos condenou à eterna saudade.</p><div><br /></div>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-44508886698065486322024-02-13T20:19:00.007-03:002024-02-16T20:24:48.268-03:00Quis ser musa da sua obra, esqueci que a arte também tem fim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="559" data-original-width="564" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxOyfym5cWgWXPTZL2p6tCF0-N1ZoWTdUNTxWLgLcnYIDr93uiNclkbYAmKWFzFipYBQcdv_XTyNUAedDhiaO8f8Rp6DjG1y0HUd2xZQyC9Df9rbXB_e5WuFQSQp8kO_jhkrNUnd_IM5iqNnkwMHTv3AgkNqWOEWLW5Rmjop_5dTa_c_lavUUdENcLryc/s16000/25.jpg" /></div><p>Se já não somos mais os mesmos, por que quando a luz reflete nesse ângulos seus eu ainda vejo os espectros soturnos do nosso passado? Detalhes tão pequenos de nós dois.</p><p>Escrevo-te cartas inéditas e dedico palavras comuns para você — palavras gastas que, juntas nesse conjunto íntimo de versos, trazem uma poesia virgem que cabe apenas no seu sorriso. Você toca-me canções, tal qual o fez centenas de vezes antes de mim e o fará centenas de vezes depois.</p><p>Somos tão semelhantes assim.</p><p>A teoria do seu retorno faminto e insaciável, esgota-se em sobriedade frente aos meus olhos. A banda recolhe os instrumentos devagar, a mesma melodia inquieta e desafinada já conhecida. Eu quero ficar e pedir que toque, uma, duas, cem mais vezes, que não tire de mim os seus dedos e o seu beijo.</p><p>Mas não sabemos falar; pedir; malmente sentir.<br />[e eu sinto muito]</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-63675791975444143862024-02-06T20:16:00.006-03:002024-02-16T20:18:52.613-03:00Sentir é difícil, saber sentir, mais ainda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="736" data-original-width="736" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTFy7p9_LecuKaNnyLt0hfc93r5_uwhLed1Q_QX3jUNZ-AW0eqb3fzORL6TdGgoZiF1H01kJBwJyJCxR6hPkhgyAvC3-LmjJxYKbMeNxeCb8gCTd1iZxnshOQ7wz35q1HVg6cOV72yeh8Wt8L7VmI1wet34pTNSeHbQE0Mdt3VNWglXcbS6uN9EWBAAp4/s16000/24.JPG" /></div><p>Se te escrevi cartas e dediquei canções demais, peça-me qualquer coisa, só não que eu cesse tanta poesia. Se pedires paz, reservo-me a estas folhas manchadas e escondo de ti os meus garranchos, existirão então sem teu nome endereçado.</p><p>Levaste-me a lugares que eu nunca tinha conhecido, de beijos inéditos e detalhes secretos. Eu prefiro o ar condicionado desligado e você odeia o calor. Em qualquer temperatura, declara o vício ao meu sorriso.</p><p>Eu falaria da mesma memória por 16 horas; esgotaria todos os cheiros, versos e suspiros ouvindo sua versão do mesmo toque. Uma noite sem chuva, sem televisão, fez sol sob a lua. Mas só escuto silêncio.</p><p>Sussurros distantes que, talvez, compartilhemos da mesma nostalgia.</p><p>O que me faz declarar sem parar, neste impulso desenfreado de palavras que fogem dos meus lábios, é o mesmo que te cala; esse nervosismo sufocante. Dentro de mim, o não dito se preenche de delírios da minha paranoia. E nela, você não lembra de nada.</p><div><br /></div>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-78733601818579760422024-02-01T20:12:00.006-03:002024-02-16T20:15:56.379-03:00Dezenove doses de saudade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="790" data-original-width="626" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-9v_4gtjrrKIbyAebvbFuddVpffu7Rs8Y_YQMBrutLbULiDhoCzHnG2aQhSqOubWmWhRV4RREFtPm_0HH0C64uaVZRkASzbgr-ZibKMTAySfwqr0OzI3uTy-5HIVDJwDokTD_eS8CO8Xc6Qf7VGGLcaP7wTZlKgOr2pWCaSZAu62pk0wuSvKOWTi0xwE/w318-h400/23.JPG" width="318" /></div><div><br /></div>Eu caio nestes jogos e finjo que sou eu quem dou as cartas. Danço neste palco para meu único espectador e digo que escolhi a música, essa que nunca ouvi tocar. Esse teu olhar cor de primavera adorna tuas palavras atrevidas, num galanteio que enfeitiça meus sentidos. Me deixa zonza.<p>E eu me dissolvo nesse capricho, um desvario inocente, que no desejo encontra redenção. Fantasia mais curta que o carnaval. Uma quimera de hormônios efêmeros e líquidos como Bauman. </p><p>Um sopro imprevisível de você, cheiro de vingança afrodisíaca e toque viciante. Sem beijo de chegada ou despedida, partiu.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-42045712898318422832024-01-28T20:08:00.012-03:002024-03-14T21:53:26.583-03:00Bebe meu corpo e desagua em mim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="737" data-original-width="695" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR1CqFsySEogN6iLQ6ksZQADbfbGL_a8JpWI4gR38J6SXHP3VhvK2u0-ao_tvYRcUu908W8t6Wej6QctUbxMK-y5ingMKeUB870S1FxsO92AbFDoKURiPLI7IB4h41c4cuPJDT37GpiAkHeDAUhH6BeeghR5PkKZFiZf1eVg6XJDnB6kUh_mvwEUiPoGQ/w378-h400/22.JPG" width="378" /><br /><i><small>Arte de </small></i><span style="font-size: 13.3333px; text-align: left;"><i>Arno Bashraf</i></span></div><p>Liga às duas da manhã, me chama pra um café na tua cozinha. Nunca recusei a bebida quente que me serves e você nunca recusou o gosto doce dos meus lábios.</p><p>Abre o portão e devora-me com esse beijo embriagado, que desafia as leis da física e anseia que nossos dois corpos ocupem o mesmo espaço.</p><p>O café, com leite, e duas colheres de açúcar, por favor.</p><p>Diga-me, enquanto te escapa a voz, sobre todas as coisas que só existem no encontro do nosso toque. Incêndios onde antes queimaram apenas fagulhas.</p><p>Tem dias que só o seu café é capaz de saciar minha sede, duas ou três xícaras de você para atenuar minha combustão.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-80496189166625113212024-01-27T20:05:00.004-03:002024-03-14T21:53:26.583-03:00Concede à tua alma a permissão de sentir<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="738" data-original-width="749" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLrz8VZxuK8_tjXhboYcXn9m9WPtH1-i6mPXwgqKykL924IKerQta1wkF2w0qYDyC69KjRNXuq5cwcH8eqhSU3UgKaYaoOa4FTN1iYfPbf39GjJEXGJ4YGpvV5QRvtZBrHpEQaxPmPzKp8aFRNnQs8jW_gzCR2hCDmRKWAV8QvAoPAGDY1mpuEevsOheo/s16000/21.JPG" /></div><p>Guardamos no cofre púrpura as fragrâncias profanas e confissões divinas de uma noite sem beijos; e fizemos o pacto silencioso de não tocar em emoções tão celestiais novamente, porque qualquer palavra desajeitada poderia macular a deidade desse sentimento tão puro.</p><p>Todas as noites eu tento escapar com a chave do cofre e espiar pela fechadura sussurros dessas memórias. Se colocar os ouvidos bem rentes a esta caixa de tesouros, posso escutar, bem de longe, suas declarações secretas, entre os ofegos da sua respiração e o farfalhar da madrugada. Roubo para mim um pedaço dessa lembrança, para dormir embalada nesse fragmento de paz. Uma colher de mel em dias que já são doces quanto você passa por eles.</p><p>Ainda que sagrado, gostaria que esse baú de ouro, de ferro, de violenta paixão, esmerilhasse em migalhinhas e libertasse à minha alma a permissão de sentir. Que habitassem novamente essas poesias em teus lábios e declamastes para mim, todas as noites, esse amor indômito e imortal. Contra todas as evidências de que não há vindouro para nós, deixe que levem à tribunal e nos condenem pela teimosia. Incendeia comigo essa chama, eterna enquanto queimar.</p><p>[e que queime para sempre]</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-50041680040408140812024-01-18T19:57:00.008-03:002024-03-14T21:53:26.583-03:00Teu amor febril e fugaz [você ama a saudade]<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="629" data-original-width="678" height="297" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfiTaohxa0Z7J_B3x73rstEYxktfekr3ZQsXMw4jyAbanBOyc-ComkGd9oogeG2LMvJwyumeasrALR6YaSruAztyGZP30YQqx9Xq8CON9gsnA_VPkwcQob3b1DWJoYNfxVmIhrDVPtMLUS4xXezixcedfHN32J8wTg2VherU7rxNgfxcBGCdUpT3pOKB4/s320/20.JPG" width="320" /></div><p>Teu amor febril é um sonho fugaz que se desvanece ao primeiro raio de sol; uma promessa sussurrada aos ventos do acaso. Dilui-se nas paredes do agora, quando o relógio volta a girar e somos obrigados a nos despedir; por algumas horas ou duas semanas inteiras.</p><p>Porque quando desfruta-me nos braços por um ou dois dias, tem abstinência da saudade.</p><p>Desaparece na vã tentativa de apagar minhas marcas da tua pele, da tua alma. E deixa, a cada hora que passa, mais profundas as raízes de um passado tão presente. Fecha os olhos e estou lá, chama por ela é meu nome que sai da tua boca.</p><p>Nenhum beijo tem o sabor extasiante que encontra nos meus lábios, nenhuma essência perfuma o seu espírito como o bálsamo do meu pescoço. A música que toca no seu carro é nossa e você pausa para não ouvir, mas ela continua num sopro nos teus ouvidos. Você evita o que sente como a sombra foge do sol. Mas não consegue parar de me contemplar brilhar no céu desse fascínio. Gosta de me amar de longe e me ter por perto.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-74687980347185155102024-01-14T19:52:00.008-03:002024-03-14T21:53:26.583-03:00Nunca mais me diz adeus<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="869" data-original-width="869" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi04Q1zWGzCPEXr_1ra8vlI2FM5WaXzNF71MB82_hVM2qOjpZu-ElDnDQx3XF9yj8IwU8Mp_dxOlupya9daMqye-NBLt26iWN-N-4S-IVgHeG7pvXUdwPMB5V1sqAOaW9aBYXPNFY-5zL9mmXxhlL96UqgATLd844A2hRFrLBaJO2KnahajBOByhSZE7CM/s16000/19.JPG" /><br /><i><small>Arte de Sergey Galanter</small></i></div><p>No banco da frente do carro derrama-se o manto da nossa utopia, um universo que existe apenas entre o meu olhar e o seu.</p><p>O ar se preenche com esse seu perfume de cardamomo, infiltra minha alma e apodera meus sentidos. Respirar é uma necessidade menos crucial que a urgência que tenho de você, e quando inspiro esse eflúvio celeste que emana de ti, o tempo não existe.</p><p>Quero morar aqui, no agora onde só existe eu, você e o mundo de figurante da nossa narrativa.</p><p>Ouve outra vez os sussurros viscerais da tua alma e derrama os segredos daquela madrugada nos meus ouvidos novamente. Fala de saudade enquanto beija meu corpo e recoloca esses planetas em órbita; chove e alaga minhas águas inebriantes; floresce a rosa congelada na minha costela, sob minha pele. Faz-me sua.</p><p>Não uma nem duas vezes. Faz-me sua por duas eternidades.</p><div><br /></div>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-54822156576576546612024-01-03T19:47:00.013-03:002024-03-14T21:53:26.583-03:00Você não me deixa colorir a gente<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="869" data-original-width="869" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_jh1HlDcsVLXntbE1DsNLZM6T91DtTIlYHxtaKC5RBuuD1T0LgFa3ZYZo1yFEoMZZwFwBGN_32WHAprAXIr56TFhd-46d3Eqe0letDNFE_bI7q_VlfzTYmCd-5u8Kt-iHysomaXfOLsW8XZ3NtbHQGUed__lK7YXu6QSxYxX52srXvYk8vtnbYCLYTVA/s16000/18.JPG" title="Arte de Sergey Galanter" /><br /><i><small>Arte de Sergey Galanter</small></i></div><p></p><p><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 14px;">Pintei um quadro de você, uma obra de arte da minha quimera, com os traços que eu guardei nesta minha memória falha. Nele tuas palavras eram gentis, teu toque delicado, teu beijo o mais doce.</span></p><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 14px;">Inventei você e desenhei nós dois na tela cinza. Faltaram cores porque você as escondeu e entrega-me apenas, durante algumas noites, sobras de arco-íris. Eu vou guardando cada um desses pedacinhos miúdos, esperando o dia que a matiz estará completa e meu coração tornará a pulsar vermelho.</span><br style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><br style="background-color: white; font-family: -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;" /><span face="-apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Helvetica, Arial, sans-serif" style="background-color: white; font-size: 14px;">(Você nunca vai me dar as cores que eu preciso, mas vai manter a armadilha das migalhas para me ter sempre pedindo mais.)</span>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-61464886821104621742023-12-22T11:41:00.006-03:002024-02-16T20:01:40.803-03:00Eu sempre perco para você<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="564" data-original-width="563" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgejGO0s29feAxwLCdShWwVo16qiZRfeL45SbHFIenzTfxGzTsUp1igOUivAlYhXzNBrylS_W9eu1-lhDyaRNrOdUlVrEX2Bcjsb78oPXVYcneOT8mzuv7LZmQlWWcTZljbC9LM30L6JX-oPBeA21Fw15PjofuW9QJ9zjDb9rMpGYgfHRvscXHQ825FLEM/s16000/11.jpg" /></div><p>Não sei blefar, revelo todas as minhas cartas para ti, na mesa, são suas. Sou sua se quiser. Geralmente quer. O suficiente para ganhar a partida, mas não para ficar uma vida inteira. O suficiente apenas para revirar os olhos e perder a respiração, mas nunca andar de mãos dadas na rua.</p><p>Eu queria que por um segundo você tivesse tanto medo de me perder como eu tenho de ficar longe de você. A distância rasga minha carne, como se o âmago dentro mim se despedaçasse, preso em um corpo sem o seu toque.</p><p><i>“Você me guardou como um segredo e eu te guardei como um juramento sagrado”</i>, cantei versos de todas as músicas que falam sobre nós para você. Não sei se escutou.</p><p>Agora tudo queima, incendeia e se derrama no meu peito. Nada ficou no lugar, os retratos escondidos, as cartas escritas à mão, não sei porque ainda os guardo. Agora arde em mim a ausência de respostas, de conversas, de abraços, de adeus, de você.</p><p>Só agora.</p><p>Amanhã um pouco menos.<br />Depois menos ainda.<br />Até não restar mais nada, nenhum fragmento de nós dois.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-1064000884864852912023-10-31T19:43:00.006-03:002024-02-16T19:47:09.801-03:00Existo no futuro do pretérito e me desfaço no presente<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="719" data-original-width="719" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_XfxBvp4Q2kCtaWhw3WKwtHYUjmthIen7EASK4ouu6_zMTHX4hyHPEEsB7tL1Xqdd1e0HX0XY-U2vK6NJLjJJchCkLCu7p0MRfgE8gSo2qtMBA_TWj5I4TAM5umglkkBu9HOeVRokJxqoBykqxvDs8vQ6f2i2X6A4_MebBNlIYKfSoX0uauU7wzLikuE/s16000/17.jpg" /></div><p>Que sol é este que repousa tão opaco neste céu cinza sobre mim? Não queima nem brilha, mas seca os olhos e não me deixa chorar. Espia-me como um juiz e julga minhas transgressões. Encaro-o de volta e deparo com meu próprio reflexo no espelho surrado.</p><p>Que cicatrizes estas tão feias nessa alma tão fosca? Não sangra nem dói, mas estilhaça em pedaços miúdos qualquer certeza de mim. Retalhos das vidas que poderia viver, acabo por costurar nenhuma. Fico com os farrapos, com o que poderia ser. Existo no futuro do pretérito e me desfaço no presente.</p><p>Que tortura tão hostil nesse âmago incandescente? Não bate nem grita, mas empalidece sua luz morosamente, em sopros pequenos, curtos, plácidos. Sussurros que professo no meu silêncio e faço-me calar o espírito eufórico. Que se cale, que se recolha, que se encolha. Pequeno, até caber em lugar nenhum.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-88599748375186226302023-09-26T13:48:00.007-03:002023-10-04T12:43:18.005-03:00Às vezes acho que sou louca, porque enxergo as coisas tão diferentes de todo mundo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="705" data-original-width="877" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikBiMx0atnritOUZFRzTSgmKbp6KudlW3g-YUmxORZeuanEckM0Ks_Sq1zCdmwXHwXLGf0NWPMdVHfmZ_l9zISX2UqpmH1ZRt_-2ZSThkoNBavh9B5eizEKz4O3wO3O-MJ6RZLdwwWRCj-qEydmSJqwaBCBe9_V9QVU1hT6-QOtE-9FkFju7_k8saffgk/s16000/10.jpg" /></div><p style="text-align: justify;">A loucura é um pêndulo que balança na frente dos meus olhos ameaçando infestar-me do indizível, daquilo que nem posso imaginar, seja porque desconheço ou porque seja tudo o que sei. E se a loucura é tudo o que sei, não saberia que já estou louca. Às vezes acho que estou, às vezes tenho certeza.</p><p style="text-align: justify;">Os sintomas me acometem, não sei se de poesia ou de distúrbio. Acho que os dois. Não consigo dormir, não consigo pensar, mas penso em tudo o tempo todo. E chego a lugar nenhum nesse labirinto de Dédalo que se fundiu na minha alma. Quero chorar, quero gritar. Não choro, mas grito o tempo todo. Gargalho muito também, até as lágrimas escaparem os olhos de tanto rir. Delírio ou felicidade? Não sei, mas não gostam que eu grite.</p><p style="text-align: justify;">Eu queria parar de sonhar, dessas pessoas que não lembram de nada ao amanhecer e o dia inicia no instante que abrem os olhos. O meu começa quando fecho. Sonhos luminosos, intensos, eternos, mais vívidos que a verdade. Eu acordo e parece que estou dormindo. O dia inteiro não sai da minha cabeça essas memórias inventadas, esses espectros da realidade. Versões que criei das pessoas, dos cenários, de mim mesma. Viver é melhor que sonhar, Elis, mas não sei fazer direito nem um, nem outro. </p><p style="text-align: justify;">Tem remédio para cessar obsessão? Não tenho problema em ser triste. Isso eu sei ser muito bem, transformo em arte, poesia e novo corte de cabelo. Eu quero apenas desligar. Calar essa voz, pensar que sou normal. Ver as coisas simplesmente como todo mundo vê. Abro mão da extravagância se necessário, renuncio a singularidade. Arranca essa insensatez e faz de mim um ser banal. O que eu mais quero é ser comum.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-48233141996358412102023-09-17T00:43:00.005-03:002023-09-17T20:45:49.897-03:00Nossos beijos são canções de seda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="540" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBdkHidw6S_-at6IKzDmefgWv8xxwhXfwSZ0f92gE8FKljPvEUnjZg1vu_LnKyf8wEUf7xqW4-3HEkPt_5ztPzAp8qlvAYllkSpKGdKV69_DvbLOa4RUIgg2jdBXyDV27EHFGWdVn4pqib5lkvwyqxvCNrK7uCl6n-b0zoXK6XOKvm5HLTKyvdQyUhEoQ/s16000/126.png" /></div><p style="text-align: justify;">Na tua digital habita o toque que afasta, com cuidado, o mundo hostil da minha sensibilidade. Tua gentileza sopra a certeza do amanhã nas minhas veias melancólicas, há tanto descrentes do vindouro. Nas cortinas de linho branco, abrigas a noite que me devora. E no alvorecer, é como se todas as horas do meu dia fossem sol.</p><p style="text-align: justify;">Nesse beijo à meia-luz, a vida inflama-me um fascínio irrefreável pelo sentir. Quero tocar-te a alma, enfiar minhas chamas no teu âmago e nutrir você de paixão eterna. Meus anseios derramam-se nos lençóis vermelhos de cetim, e neles adormecem.</p><p style="text-align: justify;">Provoca-me arte em fios de ternura, borda nessa pele o nome desse amor. Palavra que ainda não existia antes de nós. Os passarinhos cantam a balada melodiosa para dizer que o céu despertou para nós, dourado como teu cheiro balsâmico.</p><p style="text-align: justify;">No tecido do tempo nosso encontro existe em todos os passados e costura-se em todos os futuros. Nosso romance foi escrito nas páginas do infinito, em versos imortais.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-56219079276402242642023-09-15T21:54:00.003-03:002023-09-15T21:54:37.898-03:00Queria poder dizer que te amo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="522" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDBPg8-seMUwF8RTaJ-LInQ4Gv_e0vZvIW3X9i2gMajfOSiTrcVj5zD59sljb2NiZpqKT3USDQfNEIodcHPWzsSO40sa5OCoB1VHflBFDLZuwX14gjGtQke096zKxb4hjn-RcuoGoSxo-ZC5PZ456s2G_Dbj7xhzJsA8MIr8HnJhvHODQ2HrvEe1kHZXo/s16000/90.jpg" /></div><p>Fazia tanto frio naquela tarde que os ossos rangiam sob o menor movimento. Seu braço apertou minha cintura com mais afinco e uma corrente quente correu às minhas bochechas. Estava apenas me guiando pra longe da chuva, mas o toque firme me fez arrepiar.</p><p>— Dez ou vinte minutos cessa a chuva. — Ela comentou, sem tirar os olhos do céu cinzento.</p><p>Não respondi e encostei na porta de madeira da igreja. Estava trancada, mas havia uma cobertura de telhas sob a entrada.</p><p>Minha respiração era nervosa e oscilante, o tempo nos afastara de casa, deixando-nos sozinhas deste lado do campo e sua companhia ardia meu peito. A distância que nos separava, por menor que fosse, doía as costelas. Como se meu coração distendesse em sua direção com força vertiginosa.</p><p>Ela notou que tremia minha mão e deve ter imaginado que de frio, porque entrelaçou-a na sua e puxou para si, guardando nos braços.</p><p>— Assim está melhor? — Perguntou, apertando mais.</p><p>Assenti. Temia responder e revelar na minha voz o quanto a queria. Que eu deixasse escapar entre as palavras que a amava.</p><p>Mas meu silêncio também era cheio de discursos e ela sabia ler-me como ninguém.</p><p>Aproximou-se mais e nossos ombros estavam grudados. Encostou seu rosto molhado no meu. Seu hálito doce misturou-se à minha respiração e seu arfar quente e delicado chegava à minha orelha.</p><p>Nosso amor silencioso era partilhado nesses momentos sussurrantes, como os suspiros que as árvores dão quando o vento beija suas folhas.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-18346969365178420712023-09-12T21:46:00.005-03:002023-09-15T21:50:28.704-03:00Sua ausência ainda me assombra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1126" data-original-width="1440" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWg-yoFQwl-kCNK4WUT-3ajsS2DdqXoqh71Lbi4PgEqNdnxQTEUlq9XbhSD0UOc4Dx2onAa8_BepZZAjyydjTMIcu5sXTzA80iZj9NnSam3N8eYREZ2LvX6ETwWn8YXRWU-JnNPtKfn9AV3DZDqyF5QqPuDNCGbovnwfUc9-OxL65bA8BJE2XR35SFUA0/s16000/89.jpg" /></div><p>Meu amigo falou que te viu na cidade vizinha e atravessou a rua para não ter que ver sua cara fleumática de pau, palavras dele. Uma tragédia como essa parece arquitetada pelos deuses do caos — e da calamidade. Há tanto você tinha desaparecido dos meus pesadelos, agora seu fantasma retorna como uma sombra invisível que escorre pelas paredes e se esconde em todas as quinas, em todas as encruzilhadas.</p><p>Sua ausência assombra meus dias, sua presença perturba meus sonhos.</p><p>A memória é maldição e formiga como câimbra na ponta dos dedos e no canto dos olhos. Sua aparição me cobre como pele, me consome como ácido. Tudo o que é bom fica pequeno, existe apenas o seu desdém que alaga a sala com um cheiro forte e azedo marrom.</p><p>Eu fui constelação e você fazia pedidos para minhas estrelas cadentes de olhos fechados. Galáxias inteiras habitavam dentro de mim. Entre o silêncio delirante e palavras magnéticas, você abriu um buraco negro no meu umbigo e tentou devorar o meu infinito.</p><p>Hoje, seu teatro tem cortinas de veludo italiano e aplausos intermináveis, sua máscara já faz parte da sua própria pele, costurada em linhas cínicas. Mas, embora os seus dias sejam quase sempre ensolarados, no crepúsculo da madrugada eu sei que você ainda abriga algo terrível.</p><p style="text-align: right;"><i>[uma história de lobos e flores]</i></p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-51605961626121819692023-09-05T21:34:00.003-03:002023-09-15T21:46:44.209-03:00Tudo queima em mim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="781" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsj0GgUNeHizztETuv-L2HfJkp_ajli5l4kXZ8s-9jJ2Clwbz2sHPftAKMJDnJwZ_gJ0cJjjCbHq310rj2iDYeOzxrW1NIBbK-0ABOfWfnvlB2QOddUqHsEO7ajSn8x0CEl9PGkeIVWsUEIWu-gikQv0RLGcVWQzdyB661M05slrL8uYjcF9inYZfKvgg/s16000/88.jpg" /></div><p>Os dias se sucedem em uma monotonia infinita. Os sol recusa-se a brilhar incandescente e se reserva a uma luz fria e opaca. É inverno o tempo todo nesse canto da cidade, nessa rua deserta, virando á direita do meu peito.</p><p>O desejo sussurra lamentos silenciosos e seu silêncio é mais agudo que qualquer grito. Os risos, outrora fumegantes, são agora estrelas caídas que queimam com uma intensidade superficial.</p><p>Meu juízo vagueia como fantasma errante em busca de algo que foi perdido, algo que nunca pode ser encontrado novamente.</p><p>Se coubesse em mim alguma pretensão de ser mais do que me digo que sou, seria qualquer outra coisa, menos eu agora. Eu do passado, eu em outro futuro — mas não este.<br />Se houvesse algum,<br />talvez fosse, seja, diferente.<br />[…]<br />há de haver</p><p><i>algum outro futuro para mim.</i></p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-71664958755205611712023-06-28T21:39:00.000-03:002023-09-15T21:42:08.765-03:00Até mesmo as estrelas tem seu fim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="714" data-original-width="900" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh03HUBn3ZYB5BtxQB0tF8Xy6sLbR-t75_doBnh3h2n-p5RmB-3-eCepbKT4r4qtgqPnIA1vtMtjVjtmk6pUkucQIqvMFM5fsABffvRUNhenz1uf366EVE34JtEAifDUq4IzN1h4Poo-5ZwYwCvS6jgYBb_JUIeqaNgwS2yAmy8rOMmnH85qhi41uO5T64/s16000/87.jpg" /></div><p>Os dias escorrem efêmeros, como areia fina entre os dedos. Na sombra dançante do tiquetaquear do relógio, encontro um assombro que me persegue incessantemente. É um temor que se agita dentro de mim como uma tempestade que anseia por desabar.</p><p>É a consciência de que tudo que é belo e precioso se desvanece no horizonte da memória. É a certeza de que o tempo é um ladrão impiedoso que leva consigo o sopro passageiro de tudo que existe.</p><p>As estrelas cintilam no céu noturno, breves lampejos de luz na eternidade sombria, e me recordo de que até mesmo elas têm seu fim inevitável.</p><p>Assim como o vento que sussurra entre os ramos, a vida nos acaricia e nos escapa, deixando apenas vestígios de sua passagem.</p><p>Esse aforismo, por um lado, me preenche de uma angústia profunda, me cobre com o manto impiedoso da saudade.</p><p>Por outro, abraça o encanto crepuscular que envolve os suspiros da existência. É nessa brevidade que reside a urgência da vida, o combustível que acende em mim a chama da existência. Que eu possa, mesmo diante da transitoriedade, encontrar a beleza nas lágrimas silenciosas e a impermanência faça brotar em mim a força para deixar uma marca indelével no tecido do universo.</p><p>Aqui, a vida se revela em sua plenitude e fragilidade.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-10389779728048537022023-06-26T21:13:00.001-03:002023-09-15T21:32:18.107-03:00A arte de ser sozinha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="794" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCgh3p0VhXsjrsjsqtdTt8GafNM4Oqq97QoJiTtu9PKlL-c8YhmyFzoIRxKqPsfBo-quLRLCMWBs6Xgeznn9AKJWWYLyAx-ngHd4LV_ei5f2eQMeK0DFqqywun19fkUmUvgIm4xmu29qtbT7xCW2c7IfRVtr0L3DCzzPSNTaZN3O1K1eEvJrdKBlmYmLM/s16000/84.jpg" /></div><p>Habita nela uma alma solitária, que floresce às margens do silêncio, suas pétalas delicadas com aroma de serenidade.</p><p>Nas horas diurnas, ela dança entre as sombras das árvores antigas e os raios de sol que atravessam as folhas formam um tapete de luz dourada ao seu redor.</p><p>No ébano da noite, ela encontra conforto nas brisas noturnas que sussurram segredos ancestrais.</p><p>Ela é a musa da liberdade, arquiteta da independência. Seus olhos faiscam seu fogo interior, e ela molda seu próprio destino alheia às expectativas do outro — as tramas do mundo externo pouco importam aqui. No seu palácio íntimo é onde as pedras frias se transformam em oceanos revigorantes, onde os uivos do vento se convertem em sinfonias melodiosas. Onde mora a sua paz.</p><p>Não lhe interessam as correntes do convívio superficial. A companhia é uma escolha que seleciona muito bem. No manto sagrado da solitude, descobriu a força infinda que reside em si mesma,<br />a capacidade de se bastar.</p><p><br /></p><p style="text-align: right;"><span style="color: #444444;"><small>Fotografia: @mineexhibition</small></span></p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-57505739838095549472023-05-19T21:32:00.000-03:002023-09-15T21:34:46.217-03:00Eu queria pausar o tempo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="744" data-original-width="894" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjr4AnztTNuZhTDiZimh3eSAeXrJwCxCeVJOKijO2jixiDl0EtfUITWNP5UuhyVc4B7MpJPwckuv1wug3MLWcI3PUQiwF8g5wRs8ot9q9o1MopcPAct6m5pAlw95f9sLc_fMmzGaTR9WtHZfMjA1Kk7ClVW2GUJMmdnV7DaL3N6Z0zkMlzyoYbjmB-s5wM/s16000/85.jpg" /></div><p>Eu queria pausar o tempo. Por três semanas: o nada. O sol não arderia nem a brisa beijaria o meu corpo em sopros refrescantes. As cachoeiras congeladas como uma fotografia e os meus passos ecoando por uma eternidade no silêncio universal.</p><p>Eu passaria os vinte um dias deitada, sozinha. O meu nada. Resolvendo quebra-cabeças dentro da minha cabeça. Deixando meu corpo boiar em águas sem movimento, sem som, sem cheiro. Pensando em tudo que ainda pode ser e porque não é. Gritando o que mais ninguém pode escutar, nem o vento. Procurando as respostas que não encontro dentro de mim, mas não encontraria em nenhum outro lugar.</p><p>Se eu fechar os olhos apenas o suficiente para embaçar a vista, o passado parece que foi ontem e as cores da memória bem mais saturadas. Mas a fragilidade do presente ainda é a mesma, eu é que desliguei o relógio.</p><p>Quanto tempo leva para se encontrar quando o tempo não existe? Eu só queria viver para sempre nos meus vinte e poucos anos.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-91196337797131825022022-12-30T19:58:00.005-03:002024-02-16T20:00:18.285-03:00Ele não é o sol, eu sou<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="878" data-original-width="1000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtw7FR_E5G4haV0a5ZNoyxq5X3Yn9lWZdDlVSdF5J6FF0ZbTgCxH6TdbzNLfCmiUKlJoOjzecjepRlwRla4GQuC6NxxMl61vQbxWrcvZwaXsEB9dExlnYixCccLbuOaZizc-8o0C7KVtdzx_gqzOmvsthBMbAPKAShvNlMGCwoqfDUMJa-G55ZCUwi/s16000/82.png" /></div><br />Eu achei que eu nunca não sentiria a sua falta.<br />Por tanto tempo fui parte de um nós,<br />que quando você não estava mais aqui,<br />eu tentei todas as identidades possíveis,<br />já que a única que eu conhecia era ser sua.<br />Mas essa já não me cabia mais,<br />o título foi passado adiante.<br /><br />Eu andei descalça pelos vales de flores murchas,<br />pelas noites sem lua em que o sol nunca despontava,<br />e nunca fez frio, pois me queimava a saudade,<br />me alimentava a certeza de sua reciprocidade.<br />Como poderia você olhar para o mesmo céu vazio de tudo o que há<br />e não pensar em todas as estrelas que contamos juntos,<br />antes de se apagarem no nosso fim?<br /><br />Eu sonhei tantas noites com o dia<br />em que eu deixaria a porta da frente aberta novamente para você entrar.<br />Você sabe que a tranquei porque seu fantasma irresistível<br />ameaçou assombrar-me para sempre se eu não o expulsasse.<br />Mas eu sempre tive uma espécie de certeza<br />de que, no momento que eu abrisse,<br />os planetas retornariam as suas órbitas,<br />a chuva cairia novamente neste solo seco,<br />nesses lagos mortos.<br />As rosas congeladas voltariam a florescer<br />na minha costela, sob minha pele. <br /><br />Então eu abri.<br />Custou-me tantas centenas de noites perceber<br />que eu sentia falta, falta demais,<br />de ser amada por você.<br />De ser tão jovem,<br />de sentir tão demasiadamente cheia de certezas infundadas.<br />Deixar você ir não doeu apenas em ausência,<br />mas em crescer.<br />E agora que já não tinha mais seu amor <br />para suprir os pedaços que me faltavam,<br />o que seria de mim senão um retalho de nós? <br /><br />Eu sentia falta de quem eu achava que eu era com você.<br />Até descobrir que hoje eu sou o sol,<br />as águas que banham todos os rios,<br />a eternidade das estrelas e para sempre parte delas,<br />a terra encharcada que alimenta o bioma da minha própria alma. <br /><br />E você foi apenas uma passagem,<br />uma eterna<br />e grandiosa<br />passagem.Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-52318059321051729462022-12-17T22:40:00.001-03:002022-12-17T22:52:13.213-03:00Se tudo desaparecesse e você ficasse, eu ainda existiria<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1051" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx3qdvNoRmOJcwC9eTpi-4udLjODEdpFIOwBtGrCrwtbKIHaZOCM628EkFaINq22q8EMaU3AKI5a41mBle5CAgiy7838bum_YUFf4PvcUqp8MbhNWQJ84dT5pGeOLQNYWdHwDgVlD2kIIOzl2roLj5kRkNYcstFpg3EdaW61i_j4KUDfar5ZJbZfJN/s16000/Catherine%20e%20Heathcliff%20-%20Rebeca%20Maynart%20PNG.png" /></div><p style="text-align: justify;">Meu amor, minha Catherine,</p><p style="text-align: justify;">O ar escapa aos meus pulmões ao pensar em ti, então eu nunca mais consegui respirar. As palavras faltam ao escrever nesse abismo vazio e intolerável. Uma parte de mim foi arrancada e está agora flutuando, eternamente fora de alcance.</p><p style="text-align: justify;">Como posso eu continuar assim, morto-vivo, restos putrefatos de um homem? Minha alma foi banida da Terra no instante em que a sua libertou-se do seu corpo no seu último suspiro. Porque eu te amei, te amei, terrível espelho deslumbrante de mim mesmo. Mas agora, enquanto a dor e o ressentimento crescem em mim como uma doença incurável, eu mal consigo lembrar o que era o amor, senão um fantasma que um dia existiu e agora corta o vento em assobios nas noites mais frias quando ouço você me chamar.</p><p style="text-align: justify;">Odeio você por tê-la tirado de mim, Catherine, por ter arrancado do meu infame espírito a sua companhia. Eu a abomino por todas as coisas que não fizemos, por todas as palavras que não dissemos, por todas as oportunidades que não aproveitamos. Detesto-te por me deixar sozinho neste mundo opaco e sombrio sem tua valentia e petulância. Eu guardo rancores pelo fato de que, mesmo em minha raiva e minha dor, eu ainda te amo mais do que tudo o que há, mais do que a soma de todas as coisas que já existiram e que ainda aguardam para existir no futuro.</p><p style="text-align: justify;">Mas eu também te perdoo, Catherine. Eu perdoo você por todas as escolhas que fez, por toda a dor que me causou. Sua perversidade é como um reflexo da minha própria. Eu perdoo você porque sei que você também sofreu ao golpe da despedida e que espera-me pela eternidade.</p><p style="text-align: justify;">Eu anseio o dia que, de alguma forma, nos encontraremos de novo. É a única coisa pela qual ainda vivo, pela esperança de que a qualquer instante acordarei deste tormento pesadelo e a encontrarei entrando pela porta da sala, e não apenas seu espectro à janela, ou o definitivo momento que serei colocado ao seu lado sob o solo de Gimmerton.</p><p style="text-align: justify;">Até lá, eu continuarei amando você, minha Catherine, incondicional e eternamente.</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p></p><div style="text-align: justify;"><i>Heathcliff </i></div><i><div style="text-align: justify;"><i>[um texto de Rebeca Maynart]</i></div></i><p></p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-19494190486566449112022-09-14T18:00:00.000-03:002022-09-14T18:00:00.199-03:00Antes de ser, já era nós<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="977" data-original-width="880" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj12k4oBKuFQ2i7i6Sk_T8QInH2ainJUef9YM82plxhLjzO0ciKU6PgeDAaESneb6On-2kndT_czm3k52BLpbzL-bZa37drM5LV5Z5iHuw1q6ZCzzqvtfxiEOhv-btgiI3ffxnZUWPBDd6Dy4c8RxOvNpzdmz0UzEmQQJk9LYMmumYswtDue7UilPSk/s16000/nosso%20destino%20estava%20tra%C3%A7ado%20caf%C3%A9%20de%20beira%20de%20estrada.jpg" /></div><p>Reli a carta que escrevi ao mar antes da tua chegada e ela falava de ti… dos eflúvios perfumados da tua nuca, das declarações calorosas no fortuito das madrugadas e da saudade hermética da tua presença, que ainda desconhecia. O prenúncio desse amor antecedeu sua própria existência, assim como Alceu Valença, eu sabia que tu vinhas, já escutava os teus sinais.</p><p>Chegou sem incertezas, hospedou-se nos seios da minha alma, fez morada no meu destino. Nenhuma outra paz tem a ternura da tua voz que me enfeitiça e o olhar sereno teu que me cativa. Pudera eu ter feito tudo diferente nesses vinte e poucos anos e ainda, todos os caminhos me conduziriam a ti.</p><p>A lua já se banhava nas águas do Atlântico quando transbordou à minha consciência que: antes de ser, já era nós.</p><p>Confidencio a ti<br />meu peito aberto em teus ouvidos<br />[fica]<br />meu futuro começou no dia que você atravessou a porta de entrada [da nossa vida].</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-42258880724626222152022-09-11T19:47:00.001-03:002024-02-16T20:00:18.282-03:00Seu fantasma ainda dança comigo nos fins de tarde<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="715" data-original-width="734" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglafP7AXfGcnJ-dtAC6nZarZoe2Cfez4S1XOTNA02GXB4qI_wciOcRaDHnKsEAOerOcgwlSaXontCzJ9Pb-gVdHO59L6f7lDW_1wPc397ZP-OkhgnUChnCzUE6uMjHcyNNk1jwcjuvaXb5csaeXtjutIKhSqYmQrb8QpSsOj31BWmLsULw_SKsNMC6/s16000/seu%20fantasma%20que%20dan%C3%A7a%20comigo%20nos%20fins%20de%20tarde%20cafe%20de%20beira%20de%20estrada.jpg" /></div><p>Ouvindo "It's All Coming Back to Me Now" da Céline Dion e pensando no seu fantasma que dança comigo nos fins de tarde ventosos de Salvador. Uma projeção sua que guardei para confortar meu peito do teatro que escrevi para nós dois e você decidiu não seguir o roteiro. Uma fantasia que só existe nas minhas memórias de alguém que você nunca foi.</p><p>É uma piada que não consigo rir a respeito como eu nunca te conheci, embora você lesse todos os capítulos da minha alma constantemente.</p><p>Eu acredito, não foi por mal que me fizeste tão mal. No entanto, depois de tanto tempo, não restou muito mais que ressentimentos e sua assombração. Da forma mais casual possível, me despedi do teu abraço. Não quero mais ser tua amiga.</p><p>Eu também vou sentir saudade. Eu também vou chorar sozinha. Eu gosto tanto de você, mas não dá mais.<br />Nossas diferenças são irremediáveis.</p><p><br /></p><p style="text-align: right;"><span style="font-size: x-small;"><i>— Inspirado na música "Não" do Tim Bernardes... e mais um monte de coisas; [junho 27, 2020]</i></span></p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5809357141601266673.post-26692448446095131052022-09-05T18:00:00.001-03:002024-02-16T20:00:18.280-03:00Você me ardia tanto, que me queimou<p><img border="0" data-original-height="696" data-original-width="894" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaR8xQ6ezrH1mcBFxju1mb9AKZ3Q1qe6va8FMPPr5sK83y9Ts_redeGVDKzPztOA2_JYEUYAPi1yEAXXkA0FxxjCZ54dsrw5EtMYqlUfCa9L59krqbIJas91wOniTKj1cDCEez7iXkUd6hOKAFLI3rqJ53rTm9H5_Twuod-_aVwLJBjcu4aKJsrw6_/s16000/voc%C3%AA%20me%20ardia%20tanto%20que%20queimou%20-%20caf%C3%A9%20de%20beira%20de%20estrada.jpg" style="text-align: center;" /></p><p></p><p>A eletricidade magnética dos teus dedos na minha pele ainda dá choque horas depois. Anos depois.</p><p>É a memória sensorial tatuada na minha carne, que desliza pelas curvas do meu corpo com o seu toque, que partiu há tanto tempo. E não voltou mais.</p><p>Nem poderia, somos almas inconciliáveis. Espectros opostos do sol, embora tão bonito tenha sido meu encaixe nos teus braços. Sinto falta, sinto alívio.</p><p>Você me ardia tanto que me queimou.</p><p>Mesmo assim eu ainda sinto o cheiro do teu perfume quando fecho os olhos. E uma vontade incontrolável de te ver de novo.</p>Rebeca Maynarthttp://www.blogger.com/profile/08058350639311900816noreply@blogger.com0