Minha avó odeia filme de onda

Minha tradição nas férias de fim de ano é vir para o interior com minha mãe encontrar a família e todas as suas peculiaridades. Como aquelas coisas que a gente sempre pensa que não acontece com mais ninguém, as piadas dos mais velhos que nunca entenderemos ou os dramas familiares mais clichês das histórias das nossas vidas — e devo dizer que são muitos. 

Fofocas imperdíveis à mesa de jantar, quibes e sucos de laranja à noite na praça, seriados criminais na televisão enquanto minha avó reclama sobre como nós só assistimos "mentes criminosas" e o quanto São Paulo é bem melhor do que qualquer outro lugar. Por falar em minha avó, a consagrada tem uns bordões muito bons que são impossíveis de não aderir para a vida. Como quando minha mãe liga o ventilador e deixa parado na frente dela — vale ressaltar que aqui é muito quente — e ela fala "esse comunismo aí tá bom, hein?". Eu nunca realmente entendi o que comunismo tem a ver com isso, de qualquer forma, faz um sentido engraçado. Ou quando eu falo que não sei fazer algo e ela sempre responde "o que você não devia saber, você sabe, né?", faço a desentendida.

Além disso há o come-come, eu não sei o que é ir para a casa dos parentes e não voltar para casa com vários números a mais na balança. E não fossem as uvas passas na ceia de Natal, esses valores seriam ainda maiores, portanto, obrigada para quem inventou essa destruidora de comidas saborosas. Contudo, o que seriam desses encontros sem os comentários sobre nossos desastres amorosos? "Vocês terminaram outra vez? Não dou uma semana para voltarem", "quando você vai casar?", "já perdeu o bv?", e o interrogatório só piora, esfregando na sua cara todas as suas desilusões amorosas. 

E aquela sua prima magra que come de tudo e não engorda? Todo mundo tem uma. A minha é viciadíssima em seriados e livros e eu não faço ideia de como ela concilia isso com as boas notas, a igreja, a vida social e o fato de não comer chocolate. Como assim? É isso mesmo, ela não come chocolate! Tem também o cachorro bipolar dela, a gente nunca sabe o que aguardar dele, um olhar dengoso implorando por carinho ou um susto daqueles quando ele resolve pirar e mostrar os dentes. 

Mas o que eu adoro mesmo na cidade, afinal, é a Boutique Elô (pejorativamente chamado de camelô). Eu juro para você, não há nada que esteja procurando que não encontre nas ruas desse comércio. Outro dia estavam vendendo uma perna ali na frente. Não, brincadeira. Em todo caso, as lojinhas aqui tem um preço que é de arrancar suspiros (aliviados).

As pérolas, no fim das contas, são o que eu mais gosto em estar com essa galera. Dando risada até do que não deu certo. Seja quando minha tia vai tomar banho e fala que "vai lavar a nossa cara" — beijos para quem entendeu —, quando minha avó me diz no meio da madrugada que eu vou ficar louca por passar tanto tempo no computador, ou quando estamos cantando Roupa Nova ensandecida e desafinadamente enquanto lavamos a louça, eu não trocaria essas loucuras por nada nesse mundo.

E é assim que eu me despeço desse ano, com um sorriso no rosto e na alma por ter exatamente quem eu preciso comigo. Torcendo para que eu possa fazer do próximo ano, fantástico. E desejo a todos vocês um 2016 iluminado, com muita paz e alegrias para compartilhar. Mil beijos.

Esse texto faz parte da série de crônicas autobiografia autorizada.

17 comentários

  1. Que cronica deliciosa de ser ler. Até ri com algumas coisas, e olha eu também não como chocolate rs.
    Beca te desejo um feliz ano novo, repleto de pessoas que te façam sentir em casa.
    Um beijo sua linda

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    1. Haha, muito obrigada, Cami, desejo em dobro para você ♥ Um beijo

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  2. Seu texto é demasiadamente envolvente.Ótimo que de despeça de 2015 com esse sentimento.bjs

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  3. Há, que crônica boa ♥ É tão bom essa época, não é? Mesmo que as piadas apareçam e as gargalhadas também com diversas pérolas, é como estar em casa, sem se preocupar em ter bons modos. Que 2016 seja repleto de momentos assim, moça, e que você consiga fazer tudo que deseja ♥

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    1. Muito obrigada, moça rs ♥ É sim, boa demais. Te desejo em dobro, Kelly!

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  4. Que coisa linda *-* Ri na parte da prima magra ( na minha família eu sou essa prima) É sempre bom passar as férias com a família!
    Que seu 2016 seja maravilhoso ♥
    Beijooos

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    1. HAHAHA, adorei!
      É bom demais mesmo ♥ Muito obrigada e que o seu seja fantástico também rs *-* beijos

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    1. Muito obrigada, tio por todo suporte em 2015 e ótimo 2016 para o senhor também!!

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  6. Que texto amor, muito cara de casa de vó mesmo! A família da minha mãe é pequena, e quando a gente se junta só tem mulher e meu avô para representar o time masculino, coitado, ele sofre com tanta mulher junto! Conversas até altas horas, comida, comida e comida. Algumas filosofias estranhas, risadas e momentos simples que nos marcam pra sempre, e muito, muito amor pra dar. Férias sem casa de vó não dá, mundo.
    Feliz 2016, Rebeca!
    Um beijo!

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    1. Hahaha, deve sofrer mesmo, muita mulher junto é do babado ♥ (no ótimo sentido). Ai essas coisas de família que é tão diferente e tão igual com todo mundo é tão gostodso né? Muito obrigada haha ♥ Ótimo 2016, moça, beijão!!

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  7. Família é tudo igual mesmo né? Me identifiquei com o texto inteiro, reuniões de família sempre rendem boas risadas, fofocas familiares e pérolas. Credo todo mundo tem aquela prima magérrima que come de tudo e eu não poderia ficar de fora.

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    1. HAHA, é tudo igual mesmo e no fim a gente não troca a nossa por nada.
      Que bom que tu se identificou <3
      KKKKK a Vanessa comentou que ela é a prima magérrima. Então minha teoria é: se você não tem, então ela é você.
      Obrigada pelo carinho s2 beijo

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  8. Opa, eu conheço essa tal prima ... Hehe

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  9. Amei! Vivi tudo isso com sua mãe. Beijos, sua tia.

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