Como nós nos conhecemos


Ele estava lá, bem na minha frente na fila do Café que eu ia todos os dias antes da aula na faculdade. Eu estava observando sua nuca, o pé do cabelo feito e a pele vermelha de um provável fim de semana na praia, quando escutei o moço atrás do balcão pacientemente perguntar pela segunda vez o que eu ia querer.

"Um cappuccino de ovomaltine e um cookie de chocolate, por favor.", pedi pouco antes de desviar o olhar ainda na nuca bronzeada do rapaz. Recebi o pedido e sentei em um dos assentos distribuídos em frente ao balcão, coincidentemente perto dele. Seu cabelo era preto e visivelmente cortado na máquina um (exatamente como eu gosto). Ele não era o tipo alto que você fica na ponta dos pés para beijar, mas, quem sabe, uns dois centímetros a mais que eu. Seus olhos, eu pude ver quando se virou casualmente, carregavam um castanho que não decidia-se entre o claro e o escuro; imaginei que ele fosse assim também, indeciso. Talvez por isso comprara um donut de cada sabor. 

Ele não era como os caras chiques e engravatados daqueles comerciais de perfumes caríssimos masculinos - se bem que com aquele cheiro, ele bem que podia ser, tampouco fazia o estilo surfista pronto para pegar umas ondas (ou você); estava mais para um rockeiro que subiria numa super moto com seu casaco de couro (quando não estivesse tão quente) a qualquer momento. Ou não. Ele não parecia se encaixar em nenhum estereótipo, e não se encaixava.

Em algum instante, ele sorriu para mim e depois riu meio bobo, quando percebeu que eu não notara. Droga! Eu estava o encarando! Queria guardar todos os seus detalhes para escrever sobre ele depois, exatamente como estou fazendo agora. O tal garoto com a blusa de um panda com tapa olho me estendeu a mão e perguntou meu nome. Concluí que ele beijava muito bem pelo modo que seus lábios se moviam; devo me gabar que estava mais que certa. Talvez por isso sua boca é a única que eu venho beijando há tantos anos.

11 comentários

  1. Texto lindo, Rebeca! Simplesmente amei o final, super inesperado - exatamente como acontece na vida real - e lindo. <3
    Beijos.

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  2. Texto maravilhoso Beca, sempre quando acho que você não pode mais surpreender, você vai e faz o contrário. Amei. <3

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  3. Você e seus que vive me arrancando suspiros.

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  4. Oii Rebeca!! "coincidentemente" seeeeeeei! HAHAHAAH Adorei o teu texto. ele 'e leve e simples e nos transmite uma sensacao de primavera (nao sei descrever de outro jeito). Alem de que, voce descreve o dia a dia muito bem. Masss viiiu, espero ler mais textos sobre o menino de camiseta do panda aqui.. porque pelo que voce descreveu ali, eu fiquei curiosa! HAHAHA Beijinhos

    http://www.verdadeescrita.com/procura-se-um-pa/

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    1. Haha, você captou meu "coincidentemente"! Ah, muito obrigada, Beca, primaveras são sempre maravilhosas. Vou escrever mais sim, matar sua curiosidade, haha. De novo, obrigada pelo carinho <3
      Beijo

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  5. Você conduz com maestria a medida exata de descrição das coisas, e usa uma linguagem poética que me identifico demais. É realmente difícil me sentir genuinamente interessado em ler textos assim. Não porque eu não goste, muito pelo contrário, mas porque geralmente a linguagem não me agrada, ou as retratações, os desfechos.
    Esse texto todo amor com esse final que surpreende te faz acreditar. Você escreve muito bem!

    Beijos!

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    1. Johnny! Eu sempre fico muito feliz quando você aparece! Muito obrigada pelo carinho, fico encantada que você goste do que escrevo tão sinceramente e que se identifique também!
      <3

      Um beijo

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    2. hahaha que bom! Vai me ver bastante por aqui ainda!

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