Cartas imprevisíveis

Ela podia ver o futuro das pessoas através das cartas e frequentava constantemente o Café. Longos cachos negros pendiam sobre os ombros ossudos e os olhos verdes, grandes e redondos davam um ar misterioso ao rosto. Simpática, pedia o mesmo todas as vezes, uma xícara de café preto e outra de chocolate quente, sorria para a garçonete e lhe cedia boas gorjetas na saída. Quando então, um outro dia, ela estava de saída e um moço, bem moço esbarrou em seu ombro, derramando todo cappuccino, previamente embalado para viagem, em seu vestido longo esverdeado. "Me desculpe!", murmurou desesperado, ela com sorriso sereno respondeu-lhe que tudo bem, embora o mesmo insistisse em pagá-la um novo. Trocaram telefones, assim, para um possível futuro reembolso. E depois disso, todos os dias, era possível observá-los tomarem chocolate juntos ao fim das tardes, contando coisas aleatórias e rindo das piadas dele. Logo ela, que sabia o futuro dos outros, não previu o próprio destino.

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